segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Crise faz “bombar” a compra e venda de produtos usados

Com bolso apertado, curitibanos procuram cada vez mais objetos de 2a mão, ao mesmo tempo em que “desencalham” o que não usam mais
Luanna e Henrique fundaram a Troc, que compra e vende roupas e acessórios de luxo (foto: Fotos: Franklin de Freitas)
Crise econômica, desemprego e queda na renda das famílias. O que para muitos é a “receita do caos”, para outros acaba se tornando em uma oportunidade. Em Curitiba, por exemplo, o setor de produtos usados, que inclui brechós, sebos e também os anúncios em plataformas online, está “bombando”, com aumento tanto na quantidade de consumidores como na de vendedores.
Somente no caso da OLX, um dos maiores sites para compra e venda de produtos usados no país, os usuários venderam um total de 952.684 produtos no primeiro semestre deste ano, com um crescimento de 16,1% nas vendas com relação ao mesmo período do ano anterior, o que coloca o Paraná como o quarto principal mercado da plataforma.
Tal crescimento, segundo Marcos Leite, vice-presidente da OLX, evidencia uma tendência que veio para ficar. Como prova, cita a pesquisa Ibope Conecta feita para a OLX em 2016, a qual revelou que 91% da população brasileira possui itens sem uso em casa, sendo que 84% deles têm interesse em vender esses objetos que, juntos, somam o valor médio de R$ 4.267 por pessoa — e isso desconsiderando imóveis, veículos e barcos.
“O momento do Brasil tem ajudado. Com a crise, muitas pessoas que tinham uma certa barreira foram pela necessidade”, afirma o executivo. “Crescemos de 2014 para 2015, mas estamos crescendo ainda mais agora. Para o comprador é muito bom, porque as pessoas que querem comprar algo conseguem encontrar o mesmo produto, com alguns meses de uso, pagando até 70% menos”, complementa.
Luxo
Em Curitiba, outro case de sucesso é a empresa Troc, um e-commerce de compra e venda de roupas e acessórios de marcas premium que chegam a ter 70% de desconto do valor original. Lançado no final de 2016, a empresa tem registrado um crescimento mensal de 100% e conta com mais de 8 mil peças em estoque de marcas como Channel, Animale, Mixed e Dior. Fundada pelo casal Luanna e Henrique Domakoski, a empresa foi uma ideia surgida em universidades renomadas dos Estados Unidos em que eles estudaram.
“A crise não chegou. Na verdade até ajuda a gente. A ideia de criar o Troc até foi porque iríamos na contramão da crise, porque é uma oportunidade para o pessoal continuar comprando produtos de qualidade e gastando menos”, conta Henrique. “40% dos nossos clientes que compram pela primeira vez reincidem. 10% das nossas peças ainda estão com etiqueta e vendemos produtos em perfeito estado, cheirosos e embrulhados em papel de seda. Para Curitiba entregamos no mesmo dia”, complementa Luanna.

Sebos aproveitam para “engordar” acervo
Para os sebos de Curitiba, o impacto da crise econômica foi mais sentido e as vendas caíram até 20% na comparação com o ano passado. Por outro lado, acabou oportunizando o “engordamento” do acervo de obras, já que mais do que dobrou o número de pessoas dispostas a se desfazerem de suas relíquias para conseguir alguma renda.
“Aumentou demais a quantidade que temos avaliado de obras. O pessoal que tem algum material guardado, já não usa, vem procurar o sebo para levantar algum dinheiro”, conta Juscelino Gustavo de Oliveira, gerente do Sebo Kapricho, que somente em Curitiba possui um acervo com mais de 200 mil livros nas lojas que ficam na Rua Comendador Araújo, 432, e na Alfredo Bufren, 193, ambas no Centro de Curitiba.
Messias Gonzaga, funcionário do Sebo Relíquia, que fica na Praça General Osório, 389, confirma a tendência. “Aumentou muito o número de pessoas vendendo. Estão negociando até coleções inteiras, coisa do tempo dos bisavós. Na semana passada, por exemplo, comprei três bibliotecas grandes de coleção”, conta.




André Coelho é especialista em desapego
"Vendo aquelas coisas que não uso mais ou que comprei e não gostei", conta diretor comercial
André Coelho, diretor comercial da Coelho Imóveis, é um dos usuários das plataformas online para venda de produtos usados. Há cinco anos trabalhando com sites como o OLX e o Mercado Livre, conta já ter negociado mais de 100 produtos. “Vendo aquelas coisas que os filhos não usam mais, o celular que vou trocar, ou até produtos novos que comprei e não gostei”, conta ele.
Além dos produtos dos quais “desapega”, ele também comercializa imóveis por meio das plataformas. Mas se o setor imobiliário registrou queda, quanto aos usados ele afirma não ter sentido diferença por conta da crise econômica. “Eu mesmo já comprei carro, celular, estabilizador, tudo pela internet. A economia fica entre 30 e 40%”, afirma, dando ainda uma dica aos que forem se aventurar nas vendas pelo site: “A republicação ajuda. Em até mquatro dias eu já tiro a postagem, excluo e lanço de novo.”

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