quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Maconha pode aliviar vício em heroína, aponta estudo






Os canabinoides, substância presentes na maconha, se usados de modo medicinal poderiam reduzir a fissura e aliviar os sintomas de abstinência em usuários de heroína. É a sugestão que a neurocientista Yasmin Hurd, da Escola de Medicina de Mount Sinai, faz em artigo publicado nesta quinta-feira, 2, na revista Trends Neuroscience.
Especialista no modo de ação de canabinoides e opioides (substância da heroína) no cérebro, ela propõe a abordagem com base em resultados de um estudo piloto feito com seres humanos e alguns feitos com animais. O trabalho foi motivado pela recente epidemia de vício na substância que foi constatada nos Estados Unidos.
A pesquisadora cita dados das autoridades de saúde americanas, que apontam que cerca de 2,5 milhões de pessoas no país foram diagnosticadas com a chamada desordem por uso de opioide (OUD, na sigla em inglês) e que 80 morrem por dia por overdose da droga.
Tanto os canabinoides quanto os opiodes regulam a percepção de dor das pessoas, mas atuam sobre receptores diferentes do cérebro.
Enquanto os primeiros têm ação mais comprovada sobre dores crônicas, os segundos aliviam dores mais agudas, por isso são usados em cirurgias no formato de morfina. Estes, porém, são mais perigosos, pelo potencial de causar overdose.
Seus receptores, explica Yasmin, são mais abundantes em uma área que regula a respiração, podendo paralisá-la se a dose for alta. “Já os canabinoides não fazem isso. Eles têm uma margem maior de benefícios terapêuticos sem causar uma overdose”, explica em comunicado à imprensa.
Em estudos em animais, aponta a pesquisadora, um canabinoide específico, o canabidiol, reduziu a fissura por mais de uma semana de abstinência e pareceu ser capaz de restaurar alguns danos neurobiológicos causados pelos opioides.
“A vantagem da maconha não é tanto porque elimina a dor dos sentidos, mas porque ‘desacopla’ a sensação do sofrimento, provavelmente por induzir uma ‘descorrelação’ de disparos neuronais”, disse o neurocientista brasileiro Sidarta Ribeiro, coordenador do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e defensor do uso medicinal da maconha no Brasil, que comentou o artigo a pedido da reportagem.
Questionado se isso poderia ter efeito também para usuários de crack, como vem defendendo a secretária de Desenvolvimento Social de São Paulo, Soninha Francine, para os usuários da capital, Ribeiro opinou que sim. “Quando a pessoa está na nóia da pedra, é a maconha que segura a onda, e pode permitir uma substituição total da droga”, disse.

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