Jô só enfrentou o São Paulo neste domingo porque o zagueiro Rodrigo
Caio inocentou o rival em uma jogada de cartão amarelo, há uma semana,
no Morumbi. E foi justamente o centroavante, em um lance com suspeita de
impedimento, quem abriu caminho para o empate por 1 a 1 em Itaquera e a
consequente classificação do Corinthians à decisão do Campeonato
Paulista. O argentino Lucas Pratto igualou o placar.
A adversária da final será a Ponte Preta, algoz de Santos e Palmeiras
nas fases anteriores, em uma histórica reedição dos três confrontos que
decidiram o Campeonato Paulista de 1977. Há 40 anos, o Corinthians
superou o time de Campinas com um gol do ídolo Basílio e encerrou um
jejum de quase 23 anos sem a conquista de um título expressivo.
Para alcançar a decisão e acabar com estigma de quarta força do Estado,
crítica decorrente da temporada ruim de 2016 e dos investimentos
escassos no elenco de 2017, o Corinthians já havia derrotado o São Paulo
na primeira partida das semifinais. No último domingo, fez 2 a 0 no
Morumbi, com gols de Jô, de novo, e do meia Rodriguinho.
Ao São Paulo, restará esperar o jogo de volta da Copa Sul-Americana
para disputar um novo mata-mata. O reencontro com o Defensa y Justicia,
com o qual o time de Rogério Ceni empatou por 0 a 0 na Argentina, será
em 11 de maio, no Morumbi. Um dia antes, o Corinthians visitará a
Universidad de Chile, que bateu por 2 a 0 em Itaquera, em Santiago.
O jogo -
A vantagem construída pelo Corinthians no Morumbi já fazia muitos
projetarem a reedição da final do Campeonato Paulista de 1977. Presente
em um dos setores de imprensa de Itaquera, pois comentaria o clássico
para uma emissora de rádio, Basílio era um dos poucos cautelosos. Ao
menos quando estava no ar. "Não posso falar que já está definido",
sorriu o autor do gol do título corintiano de quatro décadas atrás.
Nas arquibancadas, preenchidas apenas por torcedores do Corinthians,
também prevalecia o otimismo. Um mosaico foi formado no setor leste de
Itaquera quando o time da casa e o São Paulo pisaram no gramado: "Tu és
orgulho".
Eliminado da Copa do Brasil pelo Internacional na última vez em que
esteve em Itaquera, o Corinthians tinha a missão de realmente orgulhar o
seu público. Para tanto, adotou a sua postura tática habitualmente
cautelosa, apesar de Guilherme Arana ter empolgado os torcedores com uma
tentativa de passar a bola entre as pernas de Gilberto em sua primeira
participação no clássico.
Era o São Paulo, contudo, que precisava se mostrar ousado na Zona Leste
paulistana. Rogério Ceni apostou justamente em Gilberto para compor um
trio ofensivo com o argentino Lucas Pratto e o peruano Cueva, com quem o
atacante se alternava entre os lados direito e esquerdo do ataque, e
viu a sua equipe acuar a rival.
Logo aos três minutos, o São Paulo criou grande chance para abrir o
placar. Pratto recebeu a bola na direita da grande área e bateu cruzado,
para fora, iniciando a pressão são-paulina. O Corinthians ainda
colaborava com a iniciativa dos visitantes, com uma série de passes
errados.
Quando enfim acertou algumas triangulações, os donos da casa
incomodaram o goleiro Renan Ribeiro. Aos 24 minutos, Rodriguinho se
inspirou no gol marcado no Majestoso passado e arriscou a conclusão de
fora da área, para a linha de fundo. Mais tarde, aos 38, ele preferiu
acionar Romero na esquerda, e o paraguaio chutou na trave.
A bola entrou na última oportunidade do Corinthians no primeiro tempo.
Aos 46 minutos, Jadson cobrou falta na área, e Pratto subiu junto com a
defesa são-paulina para tentar afastar. Jô dominou na entrada da pequena
área e arrematou para dentro em posição duvidosa - logo ele, que só
estava em campo porque Rodrigo Caio teve
fair play
no jogo de ida. O assistente Alex Ang Ribeiro não correu para o
meio-campo, mas o árbitro Flávio Rodrigues de Souza confirmou o gol.
Impedido ou não, Jô permitiu que o Corinthians retornasse do vestiário
com ainda mais tranquilidade para disputar o segundo tempo. Do outro
lado, a paciência de Rogério Ceni durou pouco além de dez minutos,
quando decidiu trocar Gilberto e Júnior Tavares por Chávez e Luiz
Araújo.
O São Paulo, então, lançou-se ao ataque de maneira desesperada. Embora
tivesse volume de jogo, quase não chutava a gol, tal qual no primeiro
tempo. Para piorar, deixava-se irritar pela marcação corintiana. Uma
confusão na ponta esquerda do ataque visitante, por exemplo, resultou em
cartões amarelos para Thiago Mendes e Guilherme Arana.
O cenário agradou à torcida do Corinthians, entusiasmada nas
arquibancadas, que vibrava com cada desarme e enchia-se de esperança nos
contra-ataques. Caminhando de um lado a outro da área técnica,
desolado, Ceni resolveu apostar sua última ficha na tentativa de
reverter o panorama da semifinal com a entrada de Thomaz na vaga de
Cueva.
No Corinthians, os torcedores pediram a entrada de Pedrinho. Carille
preferiu mandar a campo primeiro Léo Jabá, no lugar do ovacionado
Romero. Depois, Moisés substituiu Arana. Àquela altura, o público da
casa já gritava "olé" para a troca de passes corintiana.
A euforia só foi brevemente interrompida aos 38, quando Pratto recebeu
lançamento e finalizou na saída de Cássio para empatar o jogo. As
esperanças são-paulinas de atingir uma virada heroica, entretanto,
duraram pouco. Três minutos depois, quando Kazim já ocupava o posto de
Jô no comando do ataque do Corinthians, Thiago Mendes foi punido com um
segundo cartão amarelo e despediu-se do Campeonato Paulista mais cedo do
que os seus companheiros.
FICHA TÉCNICA
CORINTHIANS 1 X 1 SÃO PAULO
Local:
Estádio de Itaquera, em São Paulo (SP)
Data:
23 de abril de 2017, domingo
Horário:
16 horas (de Brasília)
Árbitro:
Flávio Rodrigues de Souza (SP)
Assistentes:
Alex Ang Ribeiro (SP) e Herman Brumel Vani (SP)
Público:
43.008 pagantes (total de 43.394)
Renda:
R$ 2.667.936,30
Cartões amarelos:
Rodriguinho, Guilherme Arana, Léo Jabá e Jadson (Corinthians); Thiago Mendes, Wesley e Chávez (São Paulo)
Cartão vermelho:
Thiago Mendes (São Paulo)
Gols:
CORINTHIANS: Jô, aos 46 minutos do primeiro tempo; SÃO PAULO: Lucas Pratto, aos 38 minutos do segundo tempo
CORINTHIANS:
Cássio; Fagner, Balbuena, Pablo e Guilherme Arana (Moisés); Gabriel,
Maycon, Jadson, Rodriguinho e Romero (Léo Jabá); Jô (Kazim)
Técnico:
Fábio Carille
SÃO PAULO:
Renan Ribeiro; Wesley, Maicon, Rodrigo Caio e Júnior Tavares (Luiz
Araújo); Jucilei, Thiago Mendes e Cícero; Cueva (Thomaz), Lucas Pratto e
Gilberto (Chávez)
Técnico:
Rogério Ceni
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