Queda ocorrerá apenas no mês de abril e é referente ao ressarcimento da cobrança de energia atrelada à usina nuclear de Angra 3
- Estadão Conteúdo Web
A conta de luz do consumidor em todo o país vai cair até 20% em abril, por conta da devolução de uma cobrança indevida de energia atrelada à usina nuclear de Angra 3.
A decisão foi anunciada nesta terça-feira (28) pela Agência Nacional de
Energia Elétrica (Aneel) e atinge todas as distribuidoras de energia,
com exceção de apenas três empresas, a Sulgipe, a Companhia Energética
de Roraima e a Boa Vista Energia.
A queda de até 20% ocorrerá apenas no mês de abril e é referente ao
ressarcimento da cobrança indevida. O valor varia de operadora para
operadora, já que algumas empresas fizeram a cobrança por mais meses do
que as outras. A partir de maio, a tarifa volta ao preço convencional,
com apenas a retirada de Angra 3 do cálculo.
A tarifa da Copel vai cair 11,88% no mês de abril. Outras 21 empresas
também apresentarão queda de 10% a 15%.Já para sete distribuidoras do
país a tarifa vai cair de 15% a 20%. São elas: Celpe, Coelba, Cosern,
CPFL Jaguari, CPFL Paulista, Energisa Borborema e Energisa Sergipe. As
demais 32 distribuidoras apresentarão um corte entre 0% e 5%. A decisão
atinge 44 concessionárias e 20 permissionárias, todas elas
distribuidoras de energia.
Erro no cálculo
A diretoria da Aneel já havia determinado, em dezembro de 2015, que a
tarifa de energia relacionada a Angra 3 não devia entrar na conta de
luz, porque a usina - previsto para operar em 2016 - não ficaria pronta
no prazo. Por um erro interno da agência, porém, a cobrança acabou sendo
incluída na conta.
Segundo o diretor da Aneel, André Pepitone, trata-se de um erro
inédito, mas a agência tomou medidas para que não volte a ocorrer. A
correção dos valores cobrados a mais já tinha sido identificada pela
agência nos reajustes tarifários da Energisa Borborema, Light e Ampla,
que começaram a ter devoluções mensais por conta da cobrança irregular. A
decisão da Aneel, porém, foi de zerar a conta de uma única vez, em
abril.
“Foi um erro, mas não houve má fé”, disse Pepitone. “A complexidade
do processo é enorme. Esse episódio nos trouxe um ensinamento.
Precisamos dar um passo adiante e tornar esse sistema ainda mais
seguro”, comentou.
A Aneel vai criar mais etapas no processo de análise do sistema
tarifário, incluindo novas áreas técnicas para homologar as cobranças.
Em dezembro de 2015, a Aneel foi questionada pela Câmara de
Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) a respeito de Angra 3. A CCEE
é a responsável por fazer a estimativa de custos da conta responsável
por recolher recursos do Encargo de Energia de Reserva (EER). Cabe à
Aneel aprovar esse orçamento.
É por meio desse encargo, cobrado na conta de luz, que Angra 3 seria
remunerada quando entrasse em operação. Pelo contrato de concessão, a
usina deveria estar pronta e começar a gerar energia a partir de janeiro
de 2016. Mas o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) não conta
com a usina até 2021. Por isso, a Aneel decidiu autorizar a CCEE a não
pagar Angra 3.
Ainda assim, a cobrança foi feita e repassada a consumidores de todo o
País, na data de reajuste tarifário de cada distribuidora. O dinheiro
ficou no caixa das distribuidoras de energia e não foi repassado nem à
CCEE, nem à Angra 3.
Caso o processo seguisse adiante, com a cobrança por 12 meses dos
consumidores de todo o país, o valor da cobrança indevida seria de R$
1,8 bilhão a mais para Angra 3.
Projeto do governo militar, Angra 3 teve as obras paralisadas em
1986. O empreendimento foi retomado em 2009 pelo ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva e deveria ficar pronto em 2014, mas sofreu novos
adiamentos. Em 2015, as obras foram novamente paralisadas, devido a
problemas financeiros da Eletronuclear, subsidiária da Eletrobras, e
denúncias de corrupção descobertas no âmbito da Operação Pripyat, um dos
braços da Lava Jato. Vice-almirante da Marinha, o ex-presidente da
Eletronuclear Othon Luiz Pinheiro da Silva foi condenado e preso por
envolvimento no esquema.
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