As informações na internet são acessíveis e existem para todos
os gostos. Entretanto, nada garante que sejam confiáveis, como se pode
ver no fenômeno das fake news (notícias falsas) que causam até mesmo
pânico. Justamente para desfazer mitos espalhados pela internet, a
Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) lançou hoje (24) a campanha
#MAISQUEUMPALPITE.
O objetivo é garantir informações confiáveis
sobre saúde infantil com foco no desenvolvimento seguro das crianças,
envolvendo proteção por meio de vacinas e outros aspectos da infância,
como alimentação, lazer, amamentação e imunidade.
De fato, a
internet é uma facilitadora de acesso à informação e muitos pais não
resistem ao atalho. A analista de recursos humanos Fernanda Camargo
Machado, diz que costuma se informar pela internet. “Sigo o pediatra,
mas também leio bastante coisa em sites ou redes sociais. Palpites de
parentes geralmente não escuto”. Mãe do Mateus, de um ano, Fernanda
acredita que, com os pediatras se posicionando sobre os palpites, será
mais elucidativo.
O representante comercial Filipe Lima Ferraz diz
que ouve apenas os palpites confiáveis. “Sigo palpites de fontes
confiáveis, algo que remeta credibilidade. Porém, sempre associado a uma
orientação de um profissional da área. Não dá para confiar em tudo que
se lê ou assiste!”, pondera o pai da Mariah, de dois anos.
Mãe do
Diego, de quatro anos, a analista de cobrança Rosana Archila Michelin
diz que confia muito no pediatra do filho. “Eu não ligo muitos para as
pessoas que ficam dando palpite sabe, o que faço é analisar tudo, vou
sentindo o jeito do meu filho. Sempre ouvimos mais o pediatra. Lógico
que já pesquisei na internet, mas mais por curiosidade, para saber para
que serve uma vacina, por exemplo, mas nunca deixei de acreditar na
importância da vacina”, justifica.
Palpiteiros
De acordo
com o presidente do Departamento de Imunizações da SBP, o pediatra
Renato Kfouri, os chamados palpiteiros sempre tentaram influenciar a
educação e desenvolvimento das crianças. “Antigamente eram as avós, as
comadres. Aqueles que já tiveram filhos eram os conselheiros e
orientadores dessas mães. Hoje, a gente vê, no mundo digital, as pessoas
com acesso muito fácil a informações sobre orientação dos filhos, não
só através das blogueiras e influenciadoras, mas também nas redes
sociais, de uma maneira geral”, pontuou.
No entanto, o médico
pondera que as informações disponíveis na rede nem sempre são
confiáveis, o que motivou a criação da campanha. “Na internet se busca
informações sobre a melhor chupeta, o melhor andador, a segurança no
bebê, como alimentar um filho, então você tem essa informação muito
disponível, e essas informações rapidamente disponíveis nem sempre são
providas de qualidade ou estão embasadas em evidências científicas”,
alerta Kfouri.
Pensando em alcançar pais mais jovens, a campanha
#MAISQUEUMPALPITE vai marcar presença em redes sociais como a Instagram e
o Facebook. Com linguagem leve, mas com informações de qualidade, a
iniciativa também conta com um site próprio, que ainda estava fora do ar
no momento da publicação da matéria (www.maisqueumpalpite.com.br).
“A
campanha conta com vídeos com um pediatra orientando, de uma maneira
lúdica, através de uma interação com um personagem, o boneco Palpitinho.
Ele vai fazer comentários, como se fosse um palpiteiro, e o pediatra, a
fonte confiável, vai elucidar todos esses temas que a gente julgou que
são de maior interesse pelas mães”, explica Kfouri. A campanha vai
contar com especialistas dos 35 departamentos da entidade, que vão desde
os departamentos de amamentação e nutrição até imunização. A SBP tem
apoio da indústria farmacêutica Pfizer
Influenciadores
A
estratégia da campanha é colocar informação científica em videoblogues
temáticos, além de contar com suas próprias redes sociais. Por isso,
haverá vídeos de pediatras visitando os canais de influenciadores
importantes no segmento materno-infantil, como a atriz e apresentadora
Thais Fersoza. No primeiro vídeo da série, ela conversa com o pediatra
Renato Kfouri sobre as principais dúvidas relacionadas à meningite.
Ao
longo da campanha, mais pediatras da SBP visitarão outros
influenciadores para abordar novas questões importantes no âmbito da
saúde infantil, com a participação especial do boneco Palpitinho.
Os
vídeos gravados com os influenciadores serão veiculados nas redes
sociais de cada um dos participantes e estarão disponíveis no site da
iniciativa. Ali, o internauta também poderá conferir informações mais
aprofundadas sobre as temáticas abordadas pela campanha, com foco nas
várias formas de proteção ao desenvolvimento infantil: seja por meio das
vacinas e dos outros fatores que fortalecem a imunidade, ou a partir de
medidas adequadas para garantir a segurança das crianças no dia a dia,
tanto em casa e nas atividades de lazer como no transporte e em outras
situações.
Mitos e temores
Durante o evento de lançamento,
foi apresentada uma pesquisa inédita do Ibope Conecta sobre os
principais mitos e temores de pais e mães em relação às doenças
infectocontagiosas nos dois primeiros anos de vida. A partir de mil
entrevistas online realizadas com mães e pais de todas as regiões do
país, os dados mostram, entre outros aspectos, os sintomas que mais
assustam as famílias, as enfermidades mais temidas, as condutas
preventivas adotadas em casa e diferentes traços comportamentais que
envolvem essa temática.
Os dados da pesquisa, que ouviu pais das
classes A, B e C, apontam que os mitos são populares em todos os
estratos sociais. Chuva, vento e sereno são os elementos mais lembrados,
por exemplo, quando os entrevistadores perguntam aos pais sobre os
fatores que mais expõem as crianças pequenas às doenças
infectocontagiosas. Essa relação é apontada, equivocadamente, por 63% da
amostra. E a porcentagem sobe para 70% entre os entrevistados da classe
A, chegando a 67% na classe C.
Por outro lado, os fatores que, de
fato, mais favorecem a transmissão dessas doenças, como a permanência
em locais fechados e o convívio com irmãos mais velhos, são menos
citados.
Na hora de adotar medidas preventivas contra essas
enfermidades as dúvidas aumentam. Embora 94% deles classifiquem a
vacinação como uma forma de proteção muito importante, persistem mitos
sobre as doses de reforço, a segurança das vacinas e a própria
necessidade da imunização. Pelo menos 30% dos pais estão convencidos,
por exemplo, de que higiene e cuidados pessoais seriam o suficiente para
prevenir essas doenças, o que não é considerável.
O conhecido
mito de que as vacinas costumam causar a doença que deveriam prevenir
também aparece no levantamento. Pelo menos um a cada cinco pais
entrevistados acredita que essa relação é verdadeira, proporção que sobe
para mais de 1 a cada três quando se analisa apenas a classe A. Além
disso, a porcentagem daqueles que dizem não saber se essa relação é ou
não verdadeira também se mostra alta, chegando a 26% na média do total
de entrevistados, apontou a pesquisa.
Na avaliação de Kfouri, o
campo da vacinação é bastante afetado pelas notícias falsas. “Fake news é
um assunto que acaba afetando bastante o campo da imunização. Muitos
dos mitos que se espalham pela internet estão na raiz dos movimentos
antivacinação, por exemplo”, afirma o médico. Segundo dados do
Ministério da Saúde, em 2016, 53% das crianças e adolescentes do país
estavam com a carteira de vacinação desatualizada, o que levou a pasta a
promover uma campanha de multivacinação no ano passado.
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