terça-feira, 26 de janeiro de 2016

População de rua cresce e aparece em Curitiba. E vira incômodo para alguns


Antes invisíveis, moradores de rua viram problema para comerciantes da Capital

BEM PARANÁ
Moradores de rua na Praça Rui Barbosa: doações fazem com que a pessoa permaneça na rua, afirma FAS (foto: Valquir Aureliano)
A população de rua de Curitiba cresceu e apareceu. Segundo a Coordenação Municipal de Curitiba do Movimento Nacional da População de Rua, hoje a Capital conta com entre 4 e 5 mil moradores de rua. Antes invisíveis aos olhos de grande parte da sociedade, desde a última semana ganharam evidência e, como costuma acontecer, porque teriam se tornado um incômodo.
Depois da Associação de Bares e Casas Noturnas (Abrabar) soltar na semana passada uma nota polêmica defendendo no Facebook a retirada dos moradores de rua “por bem ou por força”, ontem foi a vez da Associação Comercial do Paran se posicionar sobre o assunto, afirmando que a situação teria chego ao seu limite e inclusive estaria ameaçando a sobrevivência de diversos comércios, especialmente na região central da cidade.
“Não está em questão o emprego da violência, do autoritarismo ou de qualquer outro cerceamento fora de controle capaz de gerar consequências indesejáveis, mas do estrito cumprimento de obrigações inerentes às autoridades constituídas em termos da manutenção da ordem nos espaços públicos”, ressaltou o presidente da ACP, Antonio Miguel Espolador Neto.
Procurada pela reportagem do Bem Paraná, a Fundação de Ação Social (FAS) admitiu que a situação preocupante. Segundo Antônio Carlos Rocha, assessor técnico da FAS, de fato houve um crescimento no número de pessaos em situação de rua na Capital.
“Ainda estamos fazendo um levantamento para ter números mais precisos, mas nas nossas abordagens notamos um aumento, embora não muito significativo. O que acontece que temos grandes concentrações em locais como a Praça Rui Barbosa, Rua XV, Praça Santos Andrade, a Rua João Negrão e a Avenida Sete de Setembro. Então num olhar bastante rápido realmente fica a impressão de que aumentou”, explica, apontando ainda que a questão é um problema mundial.
Rocha ressalta também a evolução no atendimento ao longo dos últimos anos, com a ampliação no número de centros de recolhimento e vagas disponíveis. “Em 2012 tinhamos apenas um espaço de acolhimento. Hoje são 10 espaços e aumentamos o número de vagas, que passou de 615 para mais de 1.000”, afirma.
População deve evitar fazer doações
De acordo com a Fundação de Ação Social, uma das maiores dificuldades que os agentes (que vão desde psicólogos e pedagosos at assistentes sociais) enfrentam na abordagem às pessoas em situação de rua é questão de donativos. Segundo Antônio Carlos Rocha, doações como mesas, sofás, televisão e guarda-roupas ajudam essas pessoas que moram na rua a se fixarem ainda mais do que já estão nessa situação vulnerável.
“Os moradores de rua usam como desculpa para não irem aos centros de acolhimento que estão esperando alguém que vai trazer donativo. Tem gente que leva mesa, sofá, armário, e isso dificulta. Inclusive tivemos um caso assim recentemente na Praça Rui Barbosa. A pessoa conseguiu sofá, TV, e não queria sair do local, não aceitava ir para o centro de acolhimento. Então a população deve evitar doar coisas porque isso só faz as pessoas se fixarem na rua ainda mais do que já estão”, afirma o assessor técnico da FAS.
No ano passado, inclusive, a Fundação lançou uma campanha contra a doação de comida, roupas ou esmola. O objetivo é desestimular a permanência ao relento, facilitando a aproximação dos servidores para levar os moradores às unidades.

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