Da AEN
O Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas do Paraná resgatou
uma transexual que foi traficada para o interior do Estado. A vítima
chegou ao Paraná, vinda do Nordeste do País, no dia 7 de março.
Denúncias levaram o Núcleo a descobrir a casa onde Valéria (nome
fictício) era mantida. Além dela, outras 20 mulheres, vindas de
diferentes regiões do país, vivem no local. Detalhes da localização da
casa e da situação das demais meninas são mantidas em sigilo para não
prejudicar as investigações que estão sendo conduzidas pelo Grupo de
Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco).
A vítima conta que saiu do Nordeste no dia 7 de março. A passagem de
avião foi comprada pela aliciadora, que se apresentava como Bruna
Marquezine. “Ela pagou tudo e me dizia o tempo todo que eu conseguiria
tirar até R$ 1 mil por dia de trabalho, que teria alguns custos, mas que
ganharia bem mais do que ganhava me prostituindo na minha cidade. Eu
não tenho família. Resolvi arriscar a sorte”, relatou.
Quando chegou ao interior do Paraná, Valéria percebeu que havia sido
enganada. “Cheguei numa casa precária, suja, com goteiras e várias
outras meninas. Era vigiada o tempo todo. O que me salvou foi ter
escondido meu celular para tentar pedir socorro”, conta.
Exploração
Logo Valéria percebeu que era quase impossível sair da casa. Era
preciso quitar uma dívida – que somava R$ 2 mil no dia da sua chegada –
para voltar a ser livre. Além disso, tudo o que era consumido na casa
era cobrado das meninas: um copo de água custava R$ 2; tomar banho, R$
15. A dívida crescia diariamente. As meninas eram obrigadas a se
prostituírem das 16h até o outro dia de manhã.
“Se não chegasse com R$ 250 em casa, eles mandavam a gente voltar pra
rua”, conta. Segundo ela, eram necessários cinco programas por noite
para chegar à quantia.
Cerca de dez dias depois de chegar ao Paraná, Valéria conseguiu
colocar créditos no celular e entrou em contato com uma pessoa que
milita pela causa LGBT. Esta pessoa fez a denúncia ao Núcleo de
Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas do Paraná.
O secretário da Justiça, Trabalho e Direitos Humanos, Artagão Júnior,
disse que, no mesmo dia em que recebeu a denúncia, o Núcleo acionou a
Polícia Civil, a Polícia Federal e o Ministério Público. “É um trabalho
delicado, envolve investigação, vários órgãos precisam agir para
conseguir libertar uma pessoa de uma situação dessas. Nossa atuação foi a
mais rápida possível. Mas para quem está passando por uma situação de
cárcere privado, com vários direitos violados, qualquer espera é uma
eternidade”, afirmou.
No dia 3 de abril Valéria saiu para fazer programa e foi resgatada
pelo Ministério Público, que providenciou imediatamente abrigo e
alimentação à vítima. No dia seguinte ela embarcou de volta para casa.
Denúncias
Só este ano, o Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas do
Paraná já recebeu 25 notificações de casos de pessoas traficadas. Em
todo ano passado, foram 10 denúncias. O aumento no número de casos é
resultado da Campanha Coração Azul promovida pela Secretaria da Justiça,
Trabalho e Direitos Humanos para estimular as delações. Prédios
públicos foram iluminados de azul, seminários foram promovidos, além da
distribuição de materiais educativos e blitze educativas, tudo para
sensibilizar a população para contribuir com a causa.
De acordo com o secretário Artagão Júnior, o tráfico de pessoas é um
crime silencioso, que retira da vítima a própria condição humana ao
tratá-la como um objeto que pode ser vendido, trocado, transportado e
explorado.
“O que chama a atenção é a vulnerabilidade comum às vítimas. Todas as
pessoas que acabam traficadas estão em busca de algo melhor. A ânsia de
mudar de vida, de fugir de uma realidade, de ter uma oportunidade
melhor, cega a pessoa e ela se torna uma vítima. Existem grupos,
fortemente esquematizados, que se aproveitam dessa fragilidade, muitas
vezes momentânea, para explorar, traficar, lucrar em cima de uma
pessoa”, alerta Silvia Cristina Xavier, Coordenadora do Núcleo.
Quem se deparar com casos suspeitos de tráfico de pessoas pode denunciar pelo telefone 181.
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