Ao contrário do que muitas pessoas pensam, o câncer de tireoide exige
cuidados rigorosos e pode ser agressivo, de acordo com o oncologista do
Complexo Hospitalar Edmundo Vasconcelos, Artur Malzyner. Com 39 anos de
experiência na área e autor de diversos livros, Malzyner é enfático ao
afirmar que este carcinoma – a neoplasia maligna mais comum do sistema
endócrino – não tem nada de bonzinho.
“Sem dúvida, é um tipo de câncer melhor que muitos outros. Poucos
pacientes falecem em decorrência deste problema nos dias de hoje. Mas,
não dá para dizer: fique tranquilo, que nada vai te acontecer”,
argumenta o médico. “Câncer bonzinho é aquele inócuo, que, mesmo sem
tratamento, evolui bem; e não é o caso. Posso dizer que o câncer de
tireoide é bem domável”, complementa.
De acordo com Malzyner, este tipo de neoplasia representa de 3 a 5%
dos cânceres hoje diagnosticados no mundo e tem o índice de mortalidade
menor no universo dos tumores malignos. Nos Estados Unidos, a estimativa
para 2017 é de 55 mil novos casos. No Brasil, é o oitavo mais comum na
população feminina (excluindo os tumores de pele não melanoma), sendo
que, em 2016, foram estimados cerca de 7 mil novos casos.
São quatro os tipos de tumores na tireoide: papilífero, folicular,
medular e anaplásico. Os dois primeiros são considerados diferenciados e
com menor gravidade. O último, mais raro, é, em geral, agressivo e com
índice de mortalidade elevado.
O papilífero corresponde a cerca de 70% dos casos, com diagnóstico
frequentemente em mulheres (três vezes mais afetadas que os homens),
entre 30 e 60 anos. No adulto idoso é mais agressivo. O folicular é
menos frequente, de 10 a 15% dos casos, comum entre 40 e 60 anos, sendo o
público feminino mais atingido do que o masculino e 90% dos pacientes
ficam curados. Uma pequena porcentagem tem recaída ou metástase.
O medular representa até 5% dos casos, podendo ser transmitido
geneticamente em 25% dos casos. Já o carcinoma anaplásico, o mais raro e
agressivo, atinge de 2 a 3% dos casos e maior incidência em pacientes
mais velhos.
De acordo com dados recentes da Sociedade Americana de Câncer, nos
tumores pequenos, é incomum ter algum problema. Os mais avançados do
tipo papilífero têm um índice baixo de mortalidade, em torno de 7 a 10%
em cinco anos e nos mais avançados (com metástase), apenas 50% se curam.
O folicular é semelhante e os tumores medulares apresentam o mesmo
comportamento, mas na metástase apenas 25% conseguem obter êxito.
Genericamente, de 10 a 30% dos pacientes falecem em 10 anos e com
metástase 50% apenas sobrevivem no mesmo período.
O tratamento dos tumores de tireoide se baseia na retirada de parte
ou toda a glândula (denominada tireoidectomia total ou parcial) e, de
acordo com a extensão da doença, o paciente deve receber iodoradioativo,
administrado uma, duas ou mais vezes, dependendo da circunstância e da
gravidade do caso para consolidar o tratamento. Após estes
procedimentos, é indispensável ingerir um comprimido de hormônio
sintético todos os dias até o fim da vida.
“Com a cirurgia e o tratamento radioativo, a imensa maioria fica
boa”, garante Malzyner, que alerta que nem sempre é fácil recolocar o
hormônio no organismo dos pacientes e acertar a dose do remédio. “As
vezes é um problema. Não é sempre rápida a adaptação ao hormônio
sintético.”
Nos últimos anos, os diagnósticos de câncer de tireoide vêm
aumentando no País e nos Estados Unidos, em decorrência, entre outros
fatores, da exposição ao raio X. “As pessoas também estão mais
conscientes e procuram com maior frequência o médico. Além disso, a
disseminação do uso do ultrassom permitiu encontrar mais facilmente os
tumores de tireoide”, finaliza.
Fique atento para os seguintes sinais e sintomas do câncer de
tireoide: nódulo no pescoço, que às vezes cresce depressa; dor na parte
da frente do pescoço, que às vezes irradia para os ouvidos; rouquidão ou
mudança no timbre de voz que não desaparece com o tempo; dificuldade
para engolir; dificuldade para respirar (com a sensação de que se está
respirando por um canudinho) e tosse que não para e não tem qualquer
relação com a gripe. “Tratando corretamente, as chances são realmente
muito boas de cura”, reforça Malzyner.
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