Agência Brasil
O Senado aprovou em segundo turno, a PEC do Teto dos Gastos Públicos (Antonio Cruz/ Agência Brasil)
O
Senado Federal aprovou nesta terça-feira (13), por 53 votos a favor e
16 contra, o texto final da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 55,
que impõe um teto aos gastos públicos pelos próximos 20 anos. A matéria
aprovada na Câmara dos Deputados como PEC 241 precisava de pelo menos
três quintos dos integrantes do Senaod (49 de 81) para ser aprovada em
segundo turno e seguir para sanção presidencial.
Após a aprovação do texto-base sem
alterações, foram apreciados dois destaques. Um que tratava da limitação
de despesas obrigatórias, como o salário mínimo, e outro que propunha
um limite mínimo de gastos com saúde e educação. Ambos foram rejeitados.
A emenda constitucional segue agora para sanção presidencial.
Entenda o que muda com a decisão do Congresso:
O que propõe a PEC 55?
A PEC do Teto de Gastos Públicos,
proposta pelo governo federal, tem o objetivo de limitar o crescimento
das despesas do governo. Considerado pelo governo Michel Temer como o
primeiro passo para superar a crise econômica e financeira do país, a
medida fixa para os três Poderes, incluindo Ministério Público e
Defensoria Pública da União, um limite anual de despesas.
Por que o governo quer limitar os gastos?
A equipe econômica encaminhou a medida
para tentar reequilibrar as contas públicas nos próximos anos e impedir
que a dívida do setor público, que atingiu 70% do Produto Interno Bruto
(PIB) em agosto, aumente ainda mais.
Para quem vale a limitação do teto de gastos públicos?
A regra vale tanto para gastos do
Executivo quanto para despesas do Senado, Câmara, Tribunal de Contas da
União, Ministério Público da União (MPU), Conselho do MPU, Defensoria
Pública, Supremo Tribunal Federal, Superior Tribunal de Justiça,
Conselho Nacional de Justiça e justiças do Trabalho, Federal, Militar,
Eleitoral e do Distrito Federal e Territórios.
Como é calculado esse limite de gastos?
Segundo a medida, o governo, assim como
as outras esferas, poderá gastar o mesmo valor que foi gasto no ano
anterior, corrigido apenas pela inflação. A inflação, medida pelo Índice
Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), é a desvalorização do
dinheiro, ou seja, quanto ele perde de poder de compra num determinado
período. Apenas para 2017 o limite orçamentário das despesas primárias –
aquelas que excluem o pagamento de juros da dívida – será o total gasto
em 2016 corrigido por 7,2%. De 2018 em diante, o limite será o do ano
anterior corrigido pela variação do IPCA de 12 meses do período
encerrado em junho do ano anterior. No caso de 2018, por exemplo, a
inflação usada será a colhida entre julho de 2016 e junho de 2017.
Qual será a duração da medida?
O texto limita por 20 anos os gastos federais ao Orçamento do ano anterior corrigido pelo IPCA.
Ela poderá sofrer alterações?
O presidente da República pode propor um
projeto de lei complementar para alterar, a partir do décimo ano de
vigência do novo regime fiscal, o método de correção dos limites de cada
grupo de órgão ou poder. O texto permite apenas uma alteração do método
de correção por mandato presidencial.
Quais serão as consequências caso o limite não seja cumprido?
Caso o limite de crescimento de gastos
seja descumprido, Poderes ou órgãos a eles vinculados ficarão impedidos
no exercício seguinte de: reajustar salários, contratar pessoal, fazer
concursos públicos (exceto para reposição de vacância) e criar novas
despesas até que os gastos retornem ao limite previsto pela PEC.
No caso do Poder Executivo, a
extrapolação de seu limite global provocará a proibição adicional de
criar ou expandir programas e linhas de financiamento ou o perdão,
renegociação ou refinanciamento de dívidas que causem ampliação de
despesas com subsídios e subvenções.
Além disso, o governo também não poderá conceder ou ampliar incentivo ou benefício de natureza tributária.
A medida se aplica para todos os tipos de gastos do governo? O que fica de fora?
Ficarão fora dos limites, entre outros
casos, as transferências constitucionais a estados e municípios, os
créditos extraordinários para calamidade pública, as despesas para
realização de eleições e os gastos com aumento de capital das chamadas
empresas estatais não dependentes.
Outra possibilidade de exclusão do teto é
o uso de recursos excedentes ao resultado primário de cada ano no
pagamento de restos a pagar registrados até 31 de dezembro de 2015.
Assim, mesmo com a previsão de um
deficit, como o projetado para 2017, de cerca de R$ 139 bilhões, se ele
for menor, a diferença poderá ser usada para quitar esses restos a pagar
sem entrar no limite do regime fiscal.
Como ficam os gastos com saúde e educação?
Diferentemente de outras áreas, saúde e
educação tiveram o limite traçado pelo mínimo a ser gasto e não o máximo
das despesas. Em 2017, haverá exceção para as áreas de saúde e
educação, que somente passarão a obedecer ao limite a partir de 2018,
segundo o governo. Pelo texto, o piso para os dois setores passa a
obedecer ao limite de despesas ligado à inflação a partir de 2018.
Atualmente, a Constituição especifica um percentual mínimo da
arrecadação da União que deve ser destinado para esses setores.
Em 2017, o parecer prevê, no caso da
saúde, percentual de 15% da receita líquida, que, segundo a Emenda
Constitucional 86, só valeria em 2020. No caso da educação, o piso
constitucional foi mantido em 18% da arrecadação de impostos. De 2018 em
diante, o valor executado no ano anterior será corrigido pelo IPCA até
2036.
Qual é o impacto da medida sobre o salário mínimo?
No relatório apresentado à comissão
especial que analisou a PEC na Câmara, o deputado Darcísio Perondi
(PMDB-RS) afirmou em seu parecer que a proposta prevê que o salário
mínimo, referência para mais de 48 milhões de pessoas, deixará de ter
aumento real, aquele acima da inflação se o governo ultrapassar o limite
de despesas, ou seja, gastar mais do que o fixado na lei.
Como ficam os concursos públicos?
O diretor da Consultoria de Orçamento e
Fiscalização Financeira da Câmara, Ricardo Volpe, disse que, pela PEC,
Judiciário e Legislativo têm “gordura para queimar” e estão em situação
confortável, inclusive para promoverem novas contratações por concurso
público. A exceção seriam os “mais gastadores”, como a Justiça do
Trabalho. Já o Executivo ficaria dependendo de outras medidas de ajuste
fiscal para se manter com a atual estrutura.
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