- Por Estadão Conteúdo
Ser sedentário não contribui apenas para o ganho de peso.
Pesquisadores da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos,
realizaram um estudo que reforça outra hipótese: a de que ficar parado e
não praticar atividades físicas diárias também envelhece nosso
organismo.
No estudo, publicado neste mês no prestigioso American Journal of Epidemiology,
os pesquisadores analisaram 1.481 mulheres norte-americanas de 64 a 95
anos e viram que as voluntárias que sentavam 10 horas ou mais por dia e
faziam menos de 40 minutos de exercício diário eram, biologicamente,
pelo menos oito anos mais velhas. O tempo parado era medido com um
aparelho, usado ao longo do dia, que verificava o movimento de cada
pessoa.
“Nossos achados sugerem que sentar muito em combinação com pouco
exercício podem estar associados a um envelhecimento mais rápido das
células. Normalmente, quantidades adequadas de atividade física são
recomendadas para beneficiar a saúde, incluindo longevidade e
envelhecimento saudável”, diz Aladdin H. Shadyab, pós-doutorando em
reumatologia e geriatria na Universidade da Califórnia e um dos autores
do estudo.
A explicação envolve genética e a interação com o impacto do meio ambiente na forma como nossos genes se manifestam. O E+ explica:
Os telômeros e o envelhecimento. Viver é sofrer de
amor, acompanhar os últimos memes, trabalhar bastante e, enquanto isso,
colocar células novas no lugar das velhas, por meio da divisão celular. A
ciência sabe que alguns maus hábitos, como fumar, comer muita gordura e
não praticar exercícios, intensificam essa troca de cadeiras.
Nesse processo de multiplicação, uma célula-mãe dá origem a
células-filhas e imprime nelas o seu DNA – isto é, a receita de como
elas devem funcionar. A princípio, como resultado dessa divisão, as
células-mãe jogariam “no lixo” o finalzinho do seu código genético, não
passando por completo a “receita” de como as células-filhas devem agir.
Se isso acontecesse, as células novinhas, por não terem consigo todo o script de funcionamento formulado pelo DNA, seriam defeituosas e promoveriam doenças no organismo.
É aí que entra uma peça-chave: o telômero, uma “capa protetora”
localizada na pontinha do cromossomo que o protege e permite que nenhum
código genético seja desperdiçado. Quanto maior ele é, mais ele protege o
cromossomo. Assim, as células-filhas nascem saudáveis, já com a
programação de como precisam funcionar.
A decadência dos telômeros. O problema é que essa
“capa protetora” fica gasta com o passar dos anos, de tanto proteger os
cromossomos após muitos anos de divisões celulares. O tempo é mais forte
e, como resultado, acabam por nascer, pouco a pouco, células-filhas
defeituosas, com apenas parte do script (o DNA) de como devem
agir. Sem essa receita, elas agem de forma errada e, aglomeradas em um
tecido, fazem órgãos funcionarem mal – o que explicaria os idosos
começarem a ter problemas de saúde.
Mas não é apenas o relógio que faz mal. Outro fator que estimula a
multiplicação das células, para além do envelhecimento, é a agressão a
elas, o que ocorre quando você está doente ou se come gordura trans, por
exemplo. O exercício físico promove substâncias que protegem você desse
dano celular e “poupam” o trabalho dos telômeros. “É possível que
mulheres sedentárias por muitas horas e que façam pouco tempo de
exercício sejam menos expostas a defesas antioxidantes e
anti-inflamatórias [produzidas durante atividades físicas]”, escrevem os
autores do estudo.
Essa relação entre o tamanho dos telômeros e o envelhecimento é que
foi reforçada pelos pesquisadores da Universidade da Califórnia.
“O comprimento dos telômeros é visto na ciência como uma medida de
envelhecimento celular. Medi-los é ver o potencial que um grupo de
células tem de se reproduzir”, afirma Michel Naslavsky, pós-doutorando
no Centro de Genética de Genoma Humano e Células-Tronco da USP e
especialista em envelhecimento.
Em outras palavras, o estudo indicou que a falta de exercício e das
substâncias anti-inflamatórias e antioxidantes pode contribuir para que
os telômeros fiquem menores e, consequentemente, protejam menos os
genes. Mexer-se é, portanto, reduzir as chances de que doenças
cardiovasculares, diabetes do tipo 2 e outras doenças apareçam.
“Nossos resultados têm importantes implicações para a população que
está envelhecendo, na qual muito tempo de sedentarismo e pouco tempo de
atividade física costuma ser a regra”, dizem os pesquisadores.
Na hora de decidir quanto de atividade física você pode fazer, vale
seguir a dica da Organização Mundial de Saúde (OMS) e praticar 60
minutos de atividade física por dia. Movimentar-se e comer bem seguem
sendo receitas para uma vida próspera e de qualidade.
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