Cidade do centro-sul do estado, que é caminho para atrações como as Cataratas do Iguaçu e países vizinhos, conta também com maior parque urbano de araucárias do Brasil e rotas que unem gastronomia e produtores locais
Com um papel fundamental de atrair turistas para o Brasil, o
ecoturismo e as atrações naturais vêm trazendo cada vez mais
estrangeiros – é o que aponta pesquisa do Ministério do Turismo que
mostra que, entre os estrangeiros que vêm ao país, mais de 15% são
motivados pelo turismo de aventura. Além disso, há ainda uma demanda
interna: também segundo o ministério, a intenção de viajar entre os
brasileiros cresceu 8% no último ano, e mais de 80% dessas pessoas
querem desbravar destinos nacionais e cenários naturais.
No Paraná, além da mundialmente conhecida e visitada Cataratas do
Iguaçu, há outros destinos não tão populares, mas que já vêm sendo
procurados por visitantes de outros países apaixonados por ecoturismo –
um deles fica em Guarapuava, no centro-sul do Paraná: o Salto São
Francisco, maior queda d´água da região sul e uma das maiores do país.
Localizado dentro do Parque Municipal São Francisco da Esperança, o
Salto tem aproximadamente 196 metros de queda livre, o que equivale mais
ou menos a um edifício de 60 andares.
Por causa da altura, a água transforma-se em uma espécie de “névoa”
antes de tocar o chão, encantando os visitantes que fazem uma trilha de
aproximadamente quatro quilômetros para chegar no ponto mais alto do
parque. Além do caminho, o parque conta com infraestrutura com
restaurantes, banheiros e estacionamentos, que deve ser ampliada em
breve, segundo o Diretor de Turismo da Secretaria de Agricultura e
Turismo de Guarapuava, Márcio de Sequeira. “Queremos potencializar o
fluxo de turistas para o Salto, que tem acesso na BR-277. Por isso
queremos indicar o destino já na rodovia, para que as pessoas que não
conhecem tomem conhecimento”, fala.
De acordo com Sequeira, o Salto São Francisco chega a receber 700
visitantes por fim de semana, tanto do Brasil quanto de fora. “Recebemos
turistas franceses, ingleses, alemães, além de outros que estão se
deslocando pelo estado e aproveitam o trajeto rodoviário para conhecer”.
E não é o único: a área é rica em regiões com cachoeiras, como a Serra
da Esperança, no início do terceiro planalto do Paraná, que conta com,
em média, 40 cachoeiras.
Outra atração natural da cidade que se destaca nacionalmente é Parque
das Araucárias, maior parque urbano de araucárias do país. A Unidade de
Conservação, criada em 1991, tem 104 hectares, 23 de florestas com
araucárias. Os visitantes que passeiam pela trilha ecológica podem
visitar o Museu de Ciências Naturais, estufa com vegetações nativas e
viveiros de mudas ornamentais e florestais.
Potencial
Para a presidente da Associação Brasileira das Empresas de Ecoturismo
e Turismo de Aventura (Abeta), Teriana Selbach, há hoje uma grande
possibilidade de expansão no ecoturismo – pesquisa recente da World
Travel & Tourism Council aponta que o Brasil ficou em primeiro lugar
entre os países com mais recursos naturais. Além disso, de acordo com a
Organização Mundial de Turismo, o nicho é o que mais cresce dentro do
macro segmento, 20% em média. “É um dado que demonstra o quanto o país
ainda pode explorar a área, que pensa de forma abrangente a
sustentabilidade, envolve o meio ambiente e a sociedade. E quanto mais a
cidade mantém essa vivência e a identidade da comunidade, mais o
turismo se impulsiona”, indica.
Fora isso, o ecoturismo abrange um mercado amplo: a Abeta mapeou o
perfil desse turista e se surpreendeu com o resultado. “Pensávamos que
era um turista mais jovem, mas descobrimos que são as famílias que mais
buscam aventura e natureza, das classes A até C. Estamos com um nicho
bem aberto”, salienta Teriana.
Gastronomia
Guarapuava também quer aumentar a vocação dessas rotas de ecoturismo:
recentemente, a cidade realizou o primeiro passeio ciclístico do
caminho de São Francisco, e pretende ampliar as ações para outras
estradas rurais, além de fazer dos próprios espaços pontos de visitação,
com estruturação de uma rota em que os visitantes possam visitar hortas
orgânicas e comprar produtos locais, como queijo e mel.
Outro potencial é o cervejeiro: grande produtora de malte, a cidade,
além de fornecer boa parte da matéria-prima usada por gigantes como a
Ambev, vê crescer o número de cervejarias artesanais. Além disso, também
sedia a tradicional Festa da Cevada, sempre em outubro. “Mapeamos cerca
de 40 produtores que fazem a bebida por hobby. E a ideia da prefeitura é
incentivar para que se transforme em negócio. Uma incubadora de
negócios foi criada para que essas pessoas produzam em uma unidade
cervejeira fornecida pela prefeitura. A ideia é que as bebidas sejam
harmonizadas com pratos da culinária local”, conta Márcio de Sequeira.
Melhorias
Para a consultora e professora da Fundação Getulio Vargas e do Isae –
Escola de Negócios, Vera Clau Waissman, especialista na área de
turismo, apesar do potencial de segmentos como o ecoturismo, o país como
um todo ainda precisa investir mais esforços para melhorar a
infraestrutura e a recepção ao turista no país.
O número de turistas estrangeiros, por exemplo, ainda é muito baixo,
pontua a professora: em 2016, 6 milhões de estrangeiros visitaram o país
– somente a capital argentina, Buenos Aires, recebe 5 milhões de
turistas de fora por ano. Paris, mais de 30 milhões. “Precisamos de uma
comunicação pesada do tipo ´receba bem o turista´ para que a população
seja alertada sobre as benesses do turismo. Não adianta investimento se o
turista chega e já é assaltado no aeroporto das grandes cidades,
roubado pelo taxista que adultera bandeira”, critica.
Além disso, Vera salienta que é preciso investir em infraestrutura
básica para que o Brasil seja atraente. “Não basta ter só hotel, precisa
de esgoto, boas estradas, bom atendimento. E para isso é preciso que as
populações locais também estejam sensibilizadas”. Teriana lembra da
importância de qualificação de mão-de-obra, sobretudo no ecoturismo.
“Acidentes expõe muito os destinos de maneira negativa, e fica difícil
reverter a imagem. Por isso, é necessário profissionais qualificados e
fiscalização do poder público”, acredita.
gazeta do povo
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