terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Febre amarela fecha zoo e amplia alerta


Folhapress

THIAGO AMÂNCIO, ANGELA PINHO E DHIEGO MAIA SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A gestão Geraldo Alckmin (PSDB) fechou nesta terça-feira (23) o Parque Estadual Fontes do Ipiranga, na zona sul, e os órgãos que ficam dentro dele -o Zoológico de São Paulo, o Jardim Botânico e o Cientec (Parque de Ciência e Tecnologia da USP)- após confirmar a morte de um macaco bugio por febre amarela.
Por isso, mais quatro distritos da região foram incluídos na campanha emergencial de vacinação, que começará nesta quinta (25) no Estado: Jabaquara, Cidade Ademar, Cursino e Sacomã. Embora uma parte da zona sul já estivesse no mapa de alerta (Campo Limpo, Capão Redondo, Cidade Dutra, Grajaú, Jardim São Luís, Pedreira, Socorro e Vila Andrade), a ampliação da área pegou moradores de surpresa e levou mais gente a postos de saúde atrás da vacina. Os espaços interditados serão reabertos dez dias após a vacinação completa nos bairros. O zoológico, por isso, deve seguir fechado até março.
Na UBS Ceci, a cerca de 4 km do parque, em torno de 40 pessoas tentavam se vacinar por volta das 12h30 desta terça. Mesmo após funcionários dizerem que as vacinas tinham acabado, um grupo permaneceu na fila. Antes mesmo de saber que estaria na nova área de alerta, Arlete Maria, 60, chegou às 3h20 para vacinar a filha -a fila já tinha 20 metros. Conseguiu às 9h30. "Tem que trazer água, comida, tudo. Não dá para contar com ninguém."
A autônoma Gabriela Gomes, 27, diz que "já estava ficando desesperada, agora piora ainda". Ela foi vacinar duas crianças. "Preciso trabalhar, não posso ficar aqui. Mas estou mais preocupada é com as meninas", diz, sobre a filha e a sobrinha ao lado dela. Para tentar conter as longas filas em postos, a Prefeitura de São Paulo começou nesta terça a distribuir senhas nas casas de moradores dos distritos alvo da campanha para garantir a imunização a partir desta quinta -agora, com doses fracionadas da vacina. A gestão Alckmin cogita a vacinação no Estado todo ainda neste primeiro semestre.
CORREDOR ECOLÓGICO
Segundo a diretora do Centro de Vigilância Epidemiológica de SP, Regiane de Paula, a região vizinha ao zoológico não estava na área de risco (e, por isso, fora da zona de vacinação emergencial) porque não faz parte do corredor ecológico (matas com interligação) pelo qual o vírus da febre amarela tem avançado. "Aquele animal [encontrado morto] não é oriundo do plantel do zoológico", diz.
A hipótese, ainda sob análise, é que o macaco infectado tenha sido deixado por alguém na área do parque estadual e migrado para o zoológico. Quem deixou lá, segundo essa linha de investigação, seria alguém que tinha o animal em casa ou mesmo fazia tráfico de animais, possivelmente com temor do avanço da febre amarela em primatas. O bugio foi encontrado morto no último dia 10 em área do zoológico chamada Bosque de Aves Africanas. O animal vivia livre no parque. O diagnóstico de febre amarela foi confirmado na noite de segunda-feira (22), o que acarretou o fechamento do parque e dos órgãos.
O zoológico recebe cerca de 1,5 milhão de visitas anualmente. Segundo Regiane, quem frequentou a área recentemente não correu risco nem deve tomar medida adicional. "Faz mais de dez dias que esse animal já morreu. Se tivesse acontecido alguma coisa, já teria sinal."
VARREDURA
A morte de macacos é considerada um sinal da presença do vírus da febre amarela. Desde 2013, funcionários do zoológico monitoram a possibilidade de contágio por febre amarela, além de outras doenças. Quando o Horto Florestal, na zona norte de SP, foi fechado, em outubro, o monitoramento passou a ser mais intensivo: duas vezes por semana, todo o perímetro do parque passou a ser percorrido em busca de animais mortos. Após campanha de vacinação no entorno, o Horto foi reaberto neste mês, mas outros 23 parques seguem fechados na capital como prevenção contra a febre amarela. "É comum a gente encontrar um animal morto porque animais morrem em vida livre. Mas esse foi o primeiro caso positivo [para febre amarela]", diz Caio Motta, responsável pelos projetos com animais livres no zoológico. "Tem risco, porque a partir de agora a gente sabe que o vírus está circulando nessa área."
Segundo o zoológico, há 80 bugios livres na área do parque, monitorados. Motta diz, entretanto, que pesquisa recente fala em até 450 animais dessa espécie na região. O zoológico vai isolar os macacos que vivem em cativeiro no local para evitar o contágio. No total, em cativeiro, há 173 primatas de 20 espécies no zoológico, segundo censo feito no ano passado --e 18 dessas espécies, com 165 animais, são neotropicais (nativas da América Central ou do Sul), mais suscetíveis à doença, com imunidade baixa ao vírus de origem africana. As outras duas espécies, chimpanzés e orangotangos, estão menos expostas, segundo veterinários do zoológico. Os que ficam em ambientes mais abertos, como numa ilha que há no local, serão levados a espaços fechados, "fazer todo o perímetro do recinto ficar rodeado por tela para evitar o contato com o mosquito", diz Fabrício Rassy, chefe da divisão de veterinária do zoológico. Os que já ficam em jaulas também terão esses espaços telados.
Esse controle não é possível entre os animais que vivem livres no parque Fontes do Ipiranga, como o bugio morto com febre amarela. "Os de vida livre, a princípio, não é possível proteger, porque a gente não tem como cercar ou telar ou ter uma ação efetiva para protegê-los no parque, em vida livre. O que a gente tem é uma ação de vigilância para tentar agir preventivamente", diz Motta. Desde o início de 2017, o Estado já registrou 81 casos da doença, com 36 mortes. Nenhum caso foi contraído na capital paulista. As cidades campeãs são Mairiporã (41 casos e 14 mortes), Atibaia (9 casos e 8 mortes) e Amparo (5 casos e 3 mortes).

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