Agência Brasil
A eleição, em primeiro
turno, de apenas oito dos 71 deputados federais que se candidataram a
prefeituras em todo o país reforça os sinais de desgaste do cenário
político, segundo especialistas ouvidos pela Agência Brasil.
O número é quase a metade do registrado nas eleições municipais de
2012, quando 15 deputados federais foram eleitos prefeitos já no
primeiro turno e 18 disputaram o segundo turno.
Este ano, apenas quatro deputados
candidatos vão para a segunda etapa do pleito: Cícero Almeida (PMDB-AL),
que disputa a prefeitura de Maceió; Nelson Marchezan Junior (PSDB-RS),
candidato em Porto Alegre); Edmilson Rodrigues (PSOL-PA), em Belém; e
Valadares Filho (PSB-SE), que concorre à prefeitura de Aracaju.
“A eleição, de fato, se deu num clima de
desgaste generalizado da política, mas não tem porque isto se refletir
apenas nos deputados. Tem reflexo sobre os partidos”, ponderou o
cientista político Carlos Ranulfo, coordenador do Centro de Estudos
Legislativos da Universidade Federal de Minas Gerais. Entre os sinais
deste desgaste, segundo o analista, estão discursos de candidatos
vitoriosos como o prefeito eleito de São Pauli, João Doria (PSDB), que
destacou ao longo de sua campanha o fato de “não ser político, mas
gestor” como estratégia para atrair votos.
O mesmo tom foi adotado por Alexandre
Kalil (PHS), que está no segundo turno da disputa pela prefeitura de
Belo Horizonte e enfrentará João Leite (PSDB). Além do discurso de
alguns candidatos, Ranulfo também destacou que muitos nomes que
disputavam o pleito evitaram associar suas imagens à de políticos mais
conhecidos, mas que estão sob a mira de investigações policiais. “É um
desgaste geral da política. Os candidatos pouco mostraram seus
padrinhos. Aécio [Neves] aqui [em Minas Gerais] não apareceu”, citou.
Analista do cenário legislativo do país,
Ranulfo disse que as eleições deste domingo não mostraram uma tendência
de renovação clara. Segundo ele, ao mesmo tempo que novos nomes
emergiram, “octogenários foram eleitos”.
Diante dos resultados municipais,
Ranulfo aposta em uma mudança na composição da Câmara dos Deputados a
partir de 2018, com maior pulverização partidária, reflexo do
crescimento de diferentes legendas por todo o país. “Se não houver uma
reforma política, pode ter um aumento do número de partidos, porque os
prefeitos são a base de deputados. Está aumentando a dispersão [de
legendas assumindo os Executivos locais], isto tende a tornar a Câmara
mais fragmentada”, calculou, projetando um aumento dos atuais 28
partidos representados na Casa para 33.
Outra consequência, segundo Ranulfo, é o
fim da polarização entre PT e PSDB, que, segundo ele, não deve se
repetir nas eleições de 2018. “Resta saber quem vai enfrentar o PSDB,
que pode enfrentar Marina [na disputa presidencial], mas a Rede
[partido de Marina] se saiu muito mal”, disse. Outra probabilidade é o
surgimento de um nome de uma frente mobilizada pela esquerda para
enfrentar os tucanos.
Impacto nas votações da Câmara
Já o cientista político da Universidade
de Brasília (UnB) David Fleischer preferiu evitar projeções, mas admitiu
que a queda do PT nas votações municipais terá reflexos dentro do
Congresso e nas bases partidárias de legendas de esquerda que pretendem
participar do pleito majoritário.
“A derrota do PT foi muito forte. O
partido elegeu 40% dos que havia eleito em 2012. E para todos os que não
se elegeram, este resultado vai influenciar as possibilidades de suas
bases partidárias nas eleições de 2018”, avaliou.
Para Fleischer, as eleições municipais
vão produzir impacto direto nas votações da Câmara. Segundo ele, se o
governo Michel Temer conseguir convencer os partidos de centro direta e
direita, conseguirá aprovar a proposta de emenda à Constituição (PEC) do
Teto de Gastos, prevista para a próxima semana em plenário. “Isto pode
fortalecer a mudança constitucional da reforma da Previdência e da
legislação trabalhista, que é mais polêmica”, completou.
Senado
Entre os senadores, apenas Marta Suplicy (PMDB-SP) e Marcelo Crivella (PRB-RJ) concorreram a prefeituras nessa eleição.
Marta ficou em quarto lugar na corrida
pela prefeitura de São Paulo, com 10,14% dos votos válidos, atrás de
Celso Russsomano (PRB), Fernando Haddad (PT) e do prefeito eleito, Joao
Doria (PSDB).
No Rio, Crivella liderou a votação, com
27,78% dos votos válidos, e vai disputar o segundo turno com o candidato
do PSOL, Marcelo Freixo, que recebeu 18,26% dos votos válidos.
Deputados federais eleitos prefeitos em primeiro turno:
Arnon Bezerra (PTB-CE) - Juazeiro do Norte
Dr. João (PR-RJ) - São João de Meriti
Edinho Araújo (PMDB-SP) - São José do Rio Preto
Fabiano Horta (PT-RJ) - Maricá
Fernando Jordão (PMDB-RJ) - Angra dos Reis
Marcelo Belinati (PP-PR) - Londrina
Moema Gramacho (PT-BA) - Lauro de Freitas
Odelmo Leão (PP-MG) - Uberlândia
Dr. João (PR-RJ) - São João de Meriti
Edinho Araújo (PMDB-SP) - São José do Rio Preto
Fabiano Horta (PT-RJ) - Maricá
Fernando Jordão (PMDB-RJ) - Angra dos Reis
Marcelo Belinati (PP-PR) - Londrina
Moema Gramacho (PT-BA) - Lauro de Freitas
Odelmo Leão (PP-MG) - Uberlândia
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