Entrega do cargo ocorre após greve dos caminhoneiros
Parente
assumiu o cargo no início do governo Michel Temer e tinha alta
aprovação, mas passou a ser bastante questionado durante a greve dos
caminhoneiros por conta da política de preços variáveis. A reunião com
Temer — e a demissão — ocorrem após o governo lançar medidas com custo
de R$ 13,5 bilhões para baixar o preço do diesel e ajudar a encerrar a
paralisação.
Na carta em que anuncia ao presidente Michel Temer
seu pedido de demissão, Pedro Parente sinaliza que a crise provocada a
partir da greve dos caminhoneiros teve grande peso em sua decisão. No
documento, Parente afirma que a estratégia adotada pelo governo de
interceder no preço do diesel ao consumidor final impõe novas discussões
sobre a política de preços da Petrobras, diante das quais sua presença no comando da empresa "deixou de ser positiva".
"Tenho
refletido muito sobre tudo o que aconteceu. Está claro, senhor
presidente, que novas discussões serão necessárias. E, diante deste
quadro fica claro que a minha permanência na presidência da Petrobras
deixou de ser positiva e de contribuir para a construção das
alternativas que o governo tem pela frente", diz o texto de Parente (leia a íntegra abaixo)
Após a notícia da demissão, a cotação do dólar disparou e a negociação das ações da Petrobras na Bolsa de São Paulo foi suspensa.
Confira a carta de demissão de Pedro Parente:
"Excelentíssimo Senhor Presidente da República,
Quando
Vossa Excelência me estendeu o honroso convite para ser presidente da
Petrobras, conversamos longamente sobre a minha visão de como poderia
trabalhar para recuperar a empresa, que passava por graves dificuldades,
sem aportes de capital do Tesouro, que na ocasião se mencionava ser
indispensável e da ordem de dezenas de bilhões de reais. Vossa
Excelência concordou inteiramente com a minha visão e me concedeu a
autonomia necessária para levar a cabo tão difícil missão.
Durante
o período em que fui presidente da empresa, contei com o pleno apoio de
seu Conselho. A trajetória da Petrobras nesse período foi acompanhada
de perto pela imprensa, pela opinião pública, e por seus investidores e
acionistas. Os resultados obtidos revelam o acerto do conjunto das
medidas que adotamos, que vão muito além da política de preços.
Faço
um julgamento sereno de meu desempenho, e me sinto autorizado a dizer
que o que prometi, foi entregue, graças ao trabalho abnegado de um time
de executivos, gerentes e o apoio de uma grande parte da força de
trabalho da empresa, sempre, repito, com o decidido apoio de seu
Conselho.
A
Petrobras é hoje uma empresa com reputação recuperada, indicadores de
segurança em linha com as melhores empresas do setor, resultados
financeiros muito positivos, como demonstrado pelo último resultado
divulgado, dívida em franca trajetória de redução e um planejamento
estratégico que tem se mostrado capaz de fazer a empresa investir de
forma responsável e duradoura, gerando empregos e riqueza para o nosso
país. E isso tudo sem qualquer aporte de capital do Tesouro Nacional,
conforme nossa conversa inicial. Me parece, assim, que as bases de uma
trajetória virtuosa para a Petrobras estão lançadas.
A
greve dos caminhoneiros e suas graves consequências para a vida do País
desencadearam um intenso e por vezes emocional debate sobre as origens
dessa crise e colocaram a política de preços da Petrobras sob intenso
questionamento. Poucos conseguem enxergar que ela reflete choques que
alcançaram a economia global, com seus efeitos no País. Movimentos na
cotação do petróleo e do câmbio elevaram os preços dos derivados,
magnificaram as distorções de tributação no setor e levaram o governo a
buscar alternativas para a solução da greve, definindo-se pela concessão
de subvenção ao consumidor de diesel.
Tenho
refletido muito sobre tudo o que aconteceu. Está claro, Sr. Presidente,
que novas discussões serão necessárias. E, diante deste quadro fica
claro que a minha permanência na presidência da Petrobras deixou de ser
positiva e de contribuir para a construção das alternativas que o
governo tem pela frente. Sempre procurei demonstrar, em minha trajetória
na vida pública que, acima de tudo, meu compromisso é com o bem
público. Não tenho qualquer apego a cargos ou posições e não serei um
empecilho para que essas alternativas sejam discutidas.
Sendo
assim, por meio desta carta, apresento meu pedido de demissão do cargo
de Presidente da Petrobras, em caráter irrevogável e irretratável.
Coloco-me à disposição para fazer a transição pelo período necessário
para aquele que vier a me substituir.
Vossa
Excelência tem sido impecável na visão de gestão profissional da
Petrobras. Permita-me, Sr. Presidente, registrar a minha sugestão de
que, para continuar com essa histórica contribuição para a empresa — que
foi nesse período gerida sem qualquer interferência política — Vossa
Excelência se apoie nas regras corporativas, que tanto foram
aperfeiçoadas nesses dois anos, e na contribuição do Conselho de
Administração para a escolha do novo presidente da Petrobras.
A
poucos brasileiros foi dada a honra de presidir a Petrobras. Tenho
plena consciência disso e sou muito grato a que, por um período de dois
anos, essa honra única me tenha sido conferida por Vossa Excelência.
Quero
finalmente registrar o meu agradecimento ao Conselho de Administração,
meus colegas da Diretoria Executiva, minha equipe de apoio direto, os
demais gestores da empresa e toda força de trabalho que fazem a
Petrobras ser a grande empresa que é, orgulho de todos os brasileiros.
Respeitosamente,
Pedro Parente"
Pedro Parente"
Confira a íntegra da nota divulgada pela Petrobras:
"Rio
de Janeiro, 1º de junho de 2018 – Petróleo Brasileiro S.A – A Petrobras
informa que o senhor Pedro Parente pediu demissão do cargo de
presidente da empresa na manhã de hoje. A nomeação de um CEO interino
será examinada pelo Conselho de Administração da Petrobras ao longo do
dia de hoje. A composição dos demais membros da diretoria executiva da
companhia não sofrerá qualquer alteração.
Fatos considerados relevantes serão prontamente comunicados ao mercado."
https://gauchazh.clicrbs.com.br
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