Folhapress
DÉBORA ÁLVARES, ISABEL FLECK, MARIANA HAUBERT E LEANDRO COLON
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Após a leitura nesta terça-feira (19), no
plenário do Senado, da autorização da Câmara para abertura do processo
de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, senadores de oposição
questionaram a decisão do presidente da Casa, Renan Calheiros
(PMDB-AL), de dar 48 horas aos líderes para indicarem os membros da
comissão especial que analisará o pedido. Diante da pressão, Renan
manteve a decisão mas acatou uma solução apresentada pelo senador Aécio
Neves (PSDB-MG), que aceitou o prazo estabelecido desde que a votação
que elegerá os 21 titulares e 21 suplentes da comissão especial
ocorresse na segunda-feira (25) e não mais na terça (26) como havia sido
determinado pelo presidente.
Renan concordou com a sugestão e marcou sessão extraordinária
deliberativa para a tarde de segunda. A mudança no dia de eleição dos
membros influi na data em que o plenário votará a admissibilidade do
processo de impeachment, que se for aprovada, determinará o afastamento
de Dilma do cargo por 180 dias. Em seguida, a Casa inicia formalmente o
julgamento da petista.
Pelas regras, o integrante mais velho do colegiado é quem marca
quando ocorre a instalação de fato da comissão. Se isso acontecer na
própria segunda, o prazo de dez dias que a comissão tem para analisar a
questão começa a ser contado a partir de terça (26) e, por isso, a
votação do caso no plenário da Casa pode ocorrer até o dia 12 de maio.
Mas se a comissão for instalada apenas na terça (26), o prazo começa a
correr a partir de quarta (27), e a votação da admissibilidade em
plenário pode ficar, segundo o calendário definido por Renan, para até o
dia 17 de maio.
Apesar dos prazos máximos definidos, alguns senadores defendem que a
comissão seja mais célere e encerre seus trabalhos ainda na primeira
semana de maio. "O senado vai ajustando o seu cronograma ao ritmo de
trabalho. O relator e o presidente utilizarão os dias necessários. O
limite do regimento são dez dias úteis, mas necessariamente a comissão
não precisa gastar os dez dias. Como é para analisar um processo de
admissibilidade, não há nenhum tipo de defesa nova, é possível e até
natural que o prazo a ser gasto nesse procedimento seja menor que os dez
dias", afirmou o senador Romero Jucá (RR), presidente do PMDB e um dos
principais articuladores do impedimento de Dilma.
Pelas regras, assim que a comissão aprova seu parecer, ele só pode
ser votado pelo plenário 48h depois e Renan avisou aos senadores nesta
terça que o Senado só irá deliberar às terças, quartas e quintas. "Me
parece que estamos afrontando a lei. Não há espaço para a procrastinação
de um processo de tamanha relevância", disse o senador Ricardo Ferraço
(PSDB-ES), que apresentou uma das questões de ordem contestando o prazo
de indicação até a próxima sexta-feira (22).
O líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO), que também apresentou
questão de ordem, disse que Renan estabeleceu o prazo de 48 horas pela
"norma geral", mas que há "norma específica" sobre o tema, que
estabelece que a eleição da comissão deve ser feita no mesmo dia da
leitura do parecer da Câmara no plenário do Senado. "A norma específica é
preponderante", disse.
Os senadores da oposição afirmam que o inciso 2º do artigo 380 do
Regimento Interno da Casa estabelece que as indicações sejam feitas na
mesma sessão de leitura da decisão da Câmara, que aprovou a abertura do
processo de impeachment no último domingo (17). A oposição chegou a
cogitar questionar no STF (Supremo Tribunal Federal) ainda nesta
terça-feira (19) o prazo de 48 horas. Segundo Renan, o rito seguirá o
que estabelece a Constituição, em primeiro lugar. Depois, seguirá o que
foi estabelecido pelo STF, a lei 1.079 -sobre os crimes de
responsabilidade-, e só depois o regimento interno da casa e o rito
adotado no impeachment de Collor.
A decisão de conceder 48 horas para que as indicações ocorram foi
informada aos líderes partidários em reunião esta manhã. Caso as
lideranças não cumpram esse prazo, conforme explicou Renan, ai sim
caberia a ele próprio, como presidente da Casa, fazê-lo. Embora a
deliberação do prazo tenha sido sua, Renan pediu agilidade aos
senadores, logo no início da sessão desta terça. "Faço um apelo para que
os líderes entreguem o mais rápido possível suas indicações e de suas
bancadas. Se tivermos os membros, hoje mesmo teremos eleição dos membros
da comissão". O PT já avisou que só fará suas designações na sexta
(22), por volta das 18h, quando vence o prazo.
Presidente do DEM, José Agripino (RN), acusa os petistas de tentarem
obstruir e atrasar o início dos trabalhos da comissão que vai julgar
Dilma. Ao contrário do que ocorreu na Câmara, Renan não pretende alterar
o ritmo dos trabalhos do Senado para acelerar a votação do impeachment.
Enquanto o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) atuou ativamente os
bastidores para viabilizar sessões extraordinárias às segundas e sextas,
dias em que o Congresso está normalmente vazio, e fazer uma rápida
tramitação do afastamento, Renan deu a entender que atuará justamente no
sentido contrário. "O Senado só tem sessões às terças, quartas e
quintas", respondeu ao ser questionado sobre a consequente demora na
instalação da comissão especial com o prazo dos 48 horas.
Aprovado pela Câmara no domingo (17), o processo de impeachment
-documento de 36 volumes e 12.044 páginas- foi entregue ao Senado na
segunda (18). A leitura é a primeira etapa do processo de impeachment no
Senado. O próximo passo é a indicação, pelos blocos, dos 21 membros
titulares (e 21 suplentes) da comissão especial até sexta-feira (22).
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