Total de eleitores que não votou para prefeito superou números do mais votado
José Marcos Lopes / BEM PARANÁ
Um fenômeno comum em eleições passadas ganhou corpo na disputa
municipal deste ano: o número abstenções e votos nulos e brancos
disparou, a ponto de superar os votos destinados a prefeitos eleitos no
primeiro turno e candidatos que garantiram vaga no segundo turno. Para
especialistas, os números mostram a insatisfação do eleitorado com os
escândalos de corrupção, os políticos, os partidos e o sistema
eleitoral.
Em Curitiba, o candidato a prefeito mais votado no primeiro turno,
Rafael Greca (PMN), teve 356.539 votos. Somados, os votos nulos (96.901,
ou 9% do total), os brancos (51.495, ou 4,78%) e as abstenções
(211.952, ou 16,44%) superam a votação destinada a Greca: 360.348. A
abstenção atingiu 16,44% do eleitorado, quase o dobro do registrado em
2012 (8,55%). O índice de brancos subiu de 3,27% para 4,78%, e o de
nulos, de 5,26%, em 2012, 9% neste ano.
O fenômeno foi verificado em outras capitais brasileiras. Em São
Paulo, João Dória (PSDB) foi eleito no primeio turno, com 3.085.187
votos. Nulos, brancos e abstenções superaram a marca: somam 3.096.304.
Aracaju, Belém, Belo Horizonte, Campo Grande, Cuiabá e Porto Alegre
também tiveram mais votos de “descontentes” do que no primeiro colocado.
No Rio de Janeiro, os dois candidatos que disputarão o segundo turno,
Marcelo Crivella (PRB) e Marcelo Freixo (PSOL), tiveram, juntos,
1.395.625 votos. A soma de abstenções, nulos e brancos chegou a
1.866.621.
No Paraná, alguns casos chamam a atenção. Em Matinhos, no Litoral do
estado, 25,16% do eleitorado não apareceu para votar. O índice
representa 7.402 eleitores em um universo de 29.417. Ruy Hauer (PR), o
escolhido nas urnas, recebeu 10.904 votos. A maior porcentragem de votos
brancos no estado foi registrada em Araruna, no Noroeste do estado,
onde 16,74% do eleitorado foi até a zona eleitoral, mas preferiu não
escolher nenhum candidato. Um total 1.504 eleitores em um universo de
10.808. Leandro da Farmácia (PPS) venceu a eleição com 5.961 votos.
Todas as grandes cidades do Paraná tiveram um alto índice de votos
nulos. Em Ponta Grossa, a porcentagem chegou a 8,22% (16.612 eleitores);
em Londrina, foram 8,27% (24.960); em Paranaguá, também foi 8,27%
(6.966); e em Maringá, 5,84% (12.487). Algumas cidades constam com
índices que ultrapassam os 80% de votos nulos no site do Tribunal
Superior Eleitoral (TSE), mas são concorrentes que tiveram a candidatura
indeferida e aguardam julgamento de recursos. Nesses casos, a Justiça
Eleitoral contabiliza os votos como nulos até o julgamento.
Descrença
Para especialistas, os números mostram que a população está ainda
mais descontente com o cenário político. “A população está meio avessa à
política, por entender que todo político é corrupto e a política é
dominada por ladrões”, avalia o cientista político e professor da PUCPR
Mário Sérgio Lepre. Para ele, além da descrença a população não
compreende o processo político. “A eleição proporcional é inintelegível
para o eleitor, há uma quantidade absurda de partidos e coligações. Essa
geleia contribui para que os partidos não tenham responsabilidade com o
sistema”.
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