terça-feira, 4 de outubro de 2016

Brancos, nulos e abstenções batem recorde; descrença leva a “fuga” da urna


Total de eleitores que não votou para prefeito superou números do mais votado

  José Marcos Lopes / BEM PARANÁ 

Urna vazia: 360 mil abstenções, brancos e nulos (foto: Franklin de Freitas)
Um fenômeno comum em eleições passadas ganhou corpo na disputa municipal deste ano: o número abstenções e votos nulos e brancos disparou, a ponto de superar os votos destinados a prefeitos eleitos no primeiro turno e candidatos que garantiram vaga no segundo turno. Para especialistas, os números mostram a insatisfação do eleitorado com os escândalos de corrupção, os políticos, os partidos e o sistema eleitoral.
Em Curitiba, o candidato a prefeito mais votado no primeiro turno, Rafael Greca (PMN), teve 356.539 votos. Somados, os votos nulos (96.901, ou 9% do total), os brancos (51.495, ou 4,78%) e as abstenções (211.952, ou 16,44%) superam a votação destinada a Greca: 360.348. A abstenção atingiu 16,44% do eleitorado, quase o dobro do registrado em 2012 (8,55%). O índice de brancos subiu de 3,27% para 4,78%, e o de nulos, de 5,26%, em 2012, 9% neste ano.
O fenômeno foi verificado em outras capitais brasileiras. Em São Paulo, João Dória (PSDB) foi eleito no primeio turno, com 3.085.187 votos. Nulos, brancos e abstenções superaram a marca: somam 3.096.304. Aracaju, Belém, Belo Horizonte, Campo Grande, Cuiabá e Porto Alegre também tiveram mais votos de “descontentes” do que no primeiro colocado. No Rio de Janeiro, os dois candidatos que disputarão o segundo turno, Marcelo Crivella (PRB) e Marcelo Freixo (PSOL), tiveram, juntos, 1.395.625 votos. A soma de abstenções, nulos e brancos chegou a 1.866.621.
No Paraná, alguns casos chamam a atenção. Em Matinhos, no Litoral do estado, 25,16% do eleitorado não apareceu para votar. O índice representa 7.402 eleitores em um universo de 29.417. Ruy Hauer (PR), o escolhido nas urnas, recebeu 10.904 votos. A maior porcentragem de votos brancos no estado foi registrada em Araruna, no Noroeste do estado, onde 16,74% do eleitorado foi até a zona eleitoral, mas preferiu não escolher nenhum candidato. Um total 1.504 eleitores em um universo de 10.808. Leandro da Farmácia (PPS) venceu a eleição com 5.961 votos.
Todas as grandes cidades do Paraná tiveram um alto índice de votos nulos. Em Ponta Grossa, a porcentagem chegou a 8,22% (16.612 eleitores); em Londrina, foram 8,27% (24.960); em Paranaguá, também foi 8,27% (6.966); e em Maringá, 5,84% (12.487). Algumas cidades constam com índices que ultrapassam os 80% de votos nulos no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mas são concorrentes que tiveram a candidatura indeferida e aguardam julgamento de recursos. Nesses casos, a Justiça Eleitoral contabiliza os votos como nulos até o julgamento.
Descrença
Para especialistas, os números mostram que a população está ainda mais descontente com o cenário político. “A população está meio avessa à política, por entender que todo político é corrupto e a política é dominada por ladrões”, avalia o cientista político e professor da PUCPR Mário Sérgio Lepre. Para ele, além da descrença a população não compreende o processo político. “A eleição proporcional é inintelegível para o eleitor, há uma quantidade absurda de partidos e coligações. Essa geleia contribui para que os partidos não tenham responsabilidade com o sistema”.

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