SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Milhares de caminhoneiros
autônomos do país podem cruzar os braços a partir da próxima
segunda-feira (21), em uma manifestação que cobra do governo reduzir a
zero a carga tributária sobre o diesel e que pode contar com apoio de
outras categorias que têm no combustível o principal custo.
"Se
hoje não tiver uma resposta (do governo sobre as reivindicações) até as
18h, a gente já vai começar a se preparar para parar a partir da
segunda-feira", disse o presidente da Associação Brasileira dos
Caminhoneiros (Abcam), José da Fonseca Lopes. "Tem hora e dia para
começar, mas não para acabar", acrescentou.
Questionado nesta
sexta-feira, o ministro de Minas e Energia, Moreira Franco, afirmou que o
governo está sensibilizado com a alta dos preços e que já está
discutindo formas para uma redução de impostos.
Uma paralisação no
transporte poderia afetar, entre outros setores, a indústria de soja,
cuja colheita no Brasil terminou recentemente. Isso em um momento em que
o mercado internacional conta com o produto do país, o maior exportador
global. O movimento promete ser mais forte justamente no Centro-Oeste e
no Sul, as principais regiões brasileiras produtoras de grãos.
A
entidade que organiza o protesto reúne cerca de 600 mil caminhoneiros
autônomos de um total de cerca de 1 milhão de motoristas no Brasil e
cobra o governo desde outubro do ano passado a queda nos custos do
diesel.
Mais cedo, a Petrobras anunciou que vai subir os preços do
diesel em 0,80% e os da gasolina em 1,34% nas refinarias a partir do
sábado, elevando os valores dos combustíveis a novas máximas de R$
2,3488 o litro de diesel e R$ 2,0680 o litro de gasolina.
"Isso até parece que é para provocar a gente", disse Lopes, sobre o novo reajuste anunciado pela petrolífera.
Desde
que a Petrobras implantou em julho do ano passado sistema de reajustes
de preços dos combustíveis quase que diários, que busca acompanhar as
cotações internacionais do petróleo e o câmbio, o diesel e a gasolina
tiveram aumento de quase 50% nas refinarias da empresa, com uma boa
parcela sendo repassada para os postos.
O setor de combustíveis,
entretanto, afirma que boa parte do custo dos combustíveis na bomba se
deve a impostos. No caso da gasolina, os tributos respondem por cerca de
50% do valor nos postos.
A ameaça dos caminhoneiros está sendo
feita em momento em que a federação de nacional de comércio de
combustíveis (Fecombustíveis), que representa os donos de postos, também
faz um apelo por mudanças tributárias, afirmando que a política de
preços da Petrobras está causando prejuízos ao setor. Segundo
o comunicado da entidade nesta semana, uma alteração nos tributos
amenizaria as perdas.
Apesar de serem autônomos, grande parte dos
caminhoneiros é vinculada a sindicatos, que desde o início desta semana
têm comunicado os motoristas via telefone e WhatsApp sobre uma provável
paralisação a partir da segunda-feira.
Segundo Lopes, a entidade
não está defendendo bloqueio de estradas ou manifestações violentas.
Está pedindo aos motoristas para não saírem para trabalhar ou não
pegarem novas cargas após entregarem os fretes já contratados.
Além
dos caminhoneiros autônomos, o protesto de segunda-feira está recebendo
apoio de outras categorias, como transportadores escolares e taxistas
de São Paulo, informou a entidade.
2015
A última vez que os
caminhoneiros promoveram protestos em âmbito nacional ocorreu no início
de 2015, quando os motoristas exigiram redução de custos com
combustível, pedágios e tabelamento de fretes.
Os protestos
duraram vários dias e paralisaram dezenas de rodovias em um movimento
que afetou as exportações do país. Os caminhoneiros somente suspenderam o
movimento quando o governo da então presidente Dilma Rousseff aprovou a
chamada Lei do Caminhoneiro, que reduziu custos em rodovias com
pedágios.
"Eu espero que não aconteça como em 2015... Bloqueio de
rodovia e quebra-quebra não consegue nada. Desde 2015 não aconteceu nada
(sobre redução de custo de combustível)... mas agora, da forma como
estamos fazendo, vamos ter sucesso muito bom", disse Lopes. "Pode não
parar tudo, mas 60% a 70% dos caminhoneiros vão parar", estimou o
presidente da Abcam.
Segundo ele, o diesel representa cerca de 42%
dos custos dos caminhoneiros autônomos. "O que Petrobras precisa fazer é
ganhar menos e o governo precisa parar de usar a gente como bode
expiatório."
A expectativa é que a adesão ao movimento seja maior
no Centro-Oeste e Sul, regiões que estão em plena época de transporte da
safra de grãos. "Estamos pedindo para o pessoal ficar pelo menos 72
horas sem carregar (os caminhões)", disse o presidente da Abcam.
Em uma tentativa de evitar protestos, concessionárias de rodovias já estão tomando medidas.
A
CCR NovaDutra afirmou nesta sexta-feira que conseguiu liminar favorável
à petição de Interdito Proibitório contra essas manifestações.
A
decisão é válida para toda a extensão da rodovia Presidente Dutra, em
seus 402 quilômetros, nos trechos do Rio de Janeiro e de São Paulo, e
proíbe os protestos sob pena de multa R$ 300 mil, disse a concessionária
em nota.
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