Nos últimos sete anos, mais de 80 mil brasileiros foram morar
em outro país, segundo dados da Receita Federal, contabilizando um
crescimento superior a 160% dessa emigração no período. Enquanto, em
2011, 8.170 pessoas entregaram a declaração de saída definitiva no país,
no ano passado, foram aproximadamente 22 mil. Movimento que promete se
intensificar: um recente estudo realizado pelo Datafolha revela que, se
pudessem, 43% dos brasileiros iriam embora do país, principalmente para
Estados Unidos e Portugal.
Os efeitos desse êxodo já podem ser
sentidos no mercado imobiliário. De acordo com a diretora da Senzala
Imóveis, Augusta Coutinho Loch, 20% da carteira de imóveis residenciais
para locação ou venda da imobiliária curitibana são de proprietários que
foram morar um outro país. “Em busca de mais segurança causada pela
instabilidade política do país, muitos brasileiros estão saindo da sua
terra natal para morar nos Estados Unidos, Canadá ou nos países
europeus. Nessa transição, acabam deixando o imóvel que moram hoje para
locação ou venda”, explica.
Perfil
Augusta
diz que esse público não é mais formado somente pelos jovens solteiros
buscando uma vida financeira melhor no exterior: “são casais com idade
entre 30 e 40 anos, com ou sem filhos, que procuram qualidade de vida”. A
pesquisa do Datafolha revelou ainda que 50% dos brasileiros com idade
entre 25 a 34 anos e 44% dos com idade entre 35 a 44 anos deseja sair do
país. O estudo compreendeu 2.090 entrevistas em 129 municípios de todas
as regiões, de 9 a 14/5/2018, com brasileiros de 16 anos ou mais. A
margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos.
Como
consequência, Augusta diz que os imóveis angariados são maiores:
apartamentos com 3 quartos e sobrados ou casas em condomínio fechado, em
diversos bairros de Curitiba. “Primeiramente, a maioria desses imóveis
são alugados. Com a estabilização das famílias brasileiras no seu país
de destino, os proprietários optam por colocar o imóvel para venda,
garantindo o princípio de preferência do inquilino e depois abrindo para
outros interessados”, explica.
É o caso da empresária Rafaela
Cunha, 30 anos, que mora há três anos em Portugal. Em busca de mais
segurança, ela e o marido se prepararam por um ano para fazer a mudança.
“Tínhamos acabado de casar e escolhemos começar a vida em outro país.
Escolhemos um país europeu porque meu marido tem cidadania italiana, o
que facilitava a legalização”, revela.
Rafaela conta que, apesar
das dificuldades em ficar longe da família e começar praticamente do
zero em um país sem contatos pessoais e profissionais, as melhores
condições de saúde e de escolas para os filhos que o casal pretende ter
pesaram mais. Nessa mudança, o casal deixou o apartamento que tinha no
Bigorrilho para locação. “Deixei o imóvel para alugar em função da crise
que havia na época, mas a minha ideia é futuramente colocá-lo à venda”,
comenta.
Deixar para alugar o sobrado no bairro Vista Alegre, em
Curitiba, também foi a opção da engenheira florestal Gabriela de Lima
Meggetto, 32 anos, que em maio desse ano mudou com o marido para
Portugal. “Deixamos o imóvel para locação, pois, ele ainda está
financiado e com o valor do aluguel paga-se a parcela do financiamento”,
afirma.
Mesmo em um bom momento da carreira, o casal decidiu
deixar o país em busca de segurança e para morar numa região litorânea
com boa estrutura e qualidade de vida. “A adaptação tem sido boa, pois, o
idioma é o mesmo, o que facilita muito. Ainda que recente, a vivência
está sendo ótima. Portugal é um país em crescimento”, comenta Gabriela.
A
diretora da Senzala Imóveis comenta que foi necessário adaptar o
procedimento de intermediação imobiliária para atendimento dos
proprietários. “Em função da distância, os proprietários geralmente
nomeiam um procurador no Brasil para assinatura do contrato de locação
ou de compra e venda. Nós fazemos o pagamento em moeda corrente
nacional, mas a tributação entre os países é diferente, por isso, conta
com um sistema desenvolvido de forma customizada para cálculo e
transferência aos proprietários”, explica Augusta.
Se há a
previsão de regressar ao Brasil? Essa não parece ser uma opção. “No
momento não, mas não digo que isso possa mudar. Talvez depois de ter
filhos eu queira estar mais perto dos familiares, apesar de ter me
mudado justamente pensando em dar um futuro melhor para eles”, diz
Rafaela. “Não tenho essa pretensão, pois, acredito que terei condições
bem melhores de vida aqui do que jamais teria no Brasil”, responde
Gabriela.
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