terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

ONGs denunciam violência contra cavalos e bois de rodeios


Veterinário diz que animais são tratados como "atletas"
 
Lucio Bernardo Junior / Câmara dos Deputados
Audiência pública para esclarecer sobre os recorrentes maus-tratos provenientes da criação, transporte, e utilização de animais em espetáculos de rodeio, vaquejada e similares
Manifestantes contra os rodeios participaram da audiência
As recorrentes denúncias contra rodeios foram debatidas, nesta terça-feira (10), na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Maus-Tratos de Animais. A veterinária e diretora do Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal, Vânia Plaza, citou uma série de danos e lesões a bovinos e equinos em rodeios pelo interior do País.
A maior parte dos ferimentos físicos foi causada pelo uso de esporas, mas Vânia também ressalta outros tipos de sofrimento animal, como estresse excessivo, por exemplo. "Quando se fala de prática de rodeio, não se pode falar em bem-estar animal, principalmente se a gente considerar a violência e a agressividade nas provas e nos treinamentos, as condições ambientais e de manejo impróprios e o desrespeito aos períodos cíclicos de sono e vigília dos animais".
Já o também veterinário Cesar Vilela, ligado à organização de rodeios, lembrou que esses eventos são devidamente regulamentados (Leis 10.519/02 e 10.520/02) desde 2002, com normas sobre o tratamento adequado aos animais. Além disso, os organizadores seguem o Regulamento do Bem-Estar Animal em Competições e têm atenção especial com a alimentação e a saúde dos cavalos e bois. "Os animais de rodeio, ao contrário do que a maioria das pessoas pensa, não são animais comuns. Ele não nasce com a índole de pular. Ele é selecionado e possui cuidados diferenciados porque é tratado como atleta".

Lucio Bernardo Junior / Câmara dos Deputados
Audiência pública para esclarecer sobre os recorrentes maus-tratos provenientes da criação, transporte, e utilização de animais em espetáculos de rodeio, vaquejada e similares. Representante do Movimento Odeio Rodeio, Leandro Ferro
Leandro Ferro: chicote, espora, cinta de flancos e outros equipamentos de rodeios são usados para golpear e causar dor com carga violenta sobre os animais
Entre os cuidados especiais com os animais, o veterinário citou a suplementação vitamínica e o controle zoológico e sanitário, com exames periódicos. Além disso, Vilela garantiu que os animais são transportados em trailers ou em caminhões com piso antiderrapante e compartimentos almofadados, para evitar traumas físicos.
Rodeio é tortura
O depoimento de Vilela foi contestado pelo representante do Movimento Odeio Rodeio, Leandro Ferro, para quem "chicote, espora, cinta de flancos e outros equipamentos de rodeios são usados para golpear e causar dor com carga violenta sobre os animais". Ele também pediu a ajuda dos deputados para entrar com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI), no Supremo Tribunal Federal, contra a Lei 10.519/02.
Ativistas do Movimento Odeio Rodeio levaram cartazes para a audiência pública em que sustentam que "rodeio é tortura" e "exploração animal não é esporte".
Aspectos econômicos
Já os organizadores do maior rodeio do País, o de Barretos, em São Paulo, destacaram aspectos econômicos da atividade, como a geração de empregos, por exemplo, e a modernização da estrutura desses eventos.
O pecuarista e organizador do Rodeio de Barretos (SP), Emílio Carlos dos Santos, afirmou que esse tipo de evento faz parte da cultura rural e pediu a colaboração fiscalizadora das ONGs de defesa dos animais, sobretudo em relação aos "rodeios mambembes".
Ele admitiu já ter presenciado tratamento inadequado a equinos e bovinos, principalmente no passado, mas ressaltou as ações que vêm sendo realizadas para modernizar e regulamentar os rodeios. "Em todos os países com pecuária evoluída, como Austrália e Canadá, há rodeios e as ONGs atuam em conjunto com os organizadores, buscando fiscalizar", argumentou.
Lucio Bernardo Junior / Câmara dos Deputados
Audiência pública para esclarecer sobre os recorrentes maus-tratos provenientes da criação, transporte, e utilização de animais em espetáculos de rodeio, vaquejada e similares. Dep. capitão Augusto (PR-SP)
Capitão Augusto: dá para perceber o quanto os animais realmente são bem tratados
O deputado Capitão Augusto (PR-SP) concordou. "Deu para perceber o quanto os animais realmente são bem tratados. Sorte do touro que pula: pouquíssimos são os selecionados para ser utilizados em rodeios, porque os demais vão para o abate virar bifinho".
Atividade cultural
Já para o relator da CPI, deputado Ricardo Tripoli (PSDB-SP), os rodeios devem se manter apenas como atividade cultural rural, com exposições e espetáculos de danças típicas, mas sem exposição de animais a sofrimento. "Espero que tenhamos o apoio de todos para que, ao término dessa CPI, possamos avançar no que diz respeito ao bem-estar animal".
A veterinária Vânia Plaza também mostrou pesquisa científica - feita em rodeios de Uberlândia (MG), Uberaba (MG), Presidente Prudente (SP) e Maringá (PR) - segundo a qual 48% a 65% das lesões físicas nos animais foram causadas por esporas. A veterinária lembrou que todos os mamíferos, aves e répteis têm sistemas límbicos, capazes de detectar e expressar a dor e o sofrimento. Plaza cobrou responsabilidade e ética diante dos animais.
Enxurrada de lama
Também nesta terça, os deputados da CPI pediram providências urgentes do governo mineiro para socorrer os animais que estão presos, ainda vivos, em meio à lama que escorreu pelos vales de Mariana, após o rompimento de duas barragens de rejeitos mineirais.
Reportagem - José Carlos Oliveira
Edição – Regina Céli Assumpção

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