O núcleo do governo interino se esforça para minimizar a nomeação de
pessoas próximas a Cunha em postos-chave para a nova administração, mas o
deputado demonstra disposição em impor gente de sua confiança como
interlocutores inevitáveis de Temer com o Congresso.
Cunha foi afastado do cargo a menos de uma semana da votação do
impeachment no Senado. Era um período delicado para Temer, mas o
deputado foi à residência oficial do hoje presidente interino no domingo
seguinte a sua queda.
Na conversa com Temer, deixou claro que não pretendia recolher as
armas. Disse que lutaria na Justiça para reaver o mandato e que se
manteria politicamente organizado. A prova de que falava sério veio dias
depois.
O afastamento de Cunha alçou Waldir Maranhão (PP-MA) à presidência da
Câmara. Deputado de pouca expressão, sempre foi aliado do peemedebista,
de quem só se afastou às vésperas do impeachment. Maranhão tentou se
firmar no cargo, mas foi alvejado por aliados de Cunha e por PSDB e DEM.
Ameaçado até de expulsão por sua sigla, voltou-se para o
peemedebista. Conseguiu uma trégua. Desde o afastamento de Cunha,
Maranhão foi pelo menos duas vezes à casa dele. "Mesmo afastado, Cunha
continua usando seu poder para comandar a Casa por meio do presidente
interino", avaliou Pauderney Avelino (AM), líder do DEM.
A maior prova da força de Cunha, no entanto, veio à tona esta semana,
quando deputados do chamado "centrão" reuniram cerca de 300 assinaturas
para impor a escolha de André Moura (PSC-SE) como líder do governo
Temer na Casa. O bloco teve participação decisiva na eleição do
peemedebista para a presidência da Câmara, em 2015.
O número de apoios a Moura fez Temer ceder. As primeiras críticas
vieram pelo currículo de Moura, que já foi acusado até de tentativa de
assassinato, o que ele nega.
Senadores criticaram a posição de Temer –Renan Calheiros (PMDB-AL) o
fez publicamente–, e, os mais próximos ao interino manifestaram
preocupação com que ele se torne "refém" de Cunha.
Numa tentativa de amenizar essa impressão, deputados aliados ao
presidente interino afirmam que, uma vez indicado, Moura tende a se
afastar de Cunha para formar seu próprio núcleo de influência. "Hoje
Cunha não é o mesmo que era ontem. E amanhã já não será mais o mesmo de
hoje", define um deputado do PMDB.
O Planalto, por sua vez, tenta disseminar a versão de que Moura é o
sintoma de um movimento mais amplo de todos os partidos pequenos e
médios da Câmara para mudar o eixo do poder na Casa e minimizam o poder
de Cunha sobre o governo interino.
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