O PT vai usar a primeira crise do governo Michel Temer para tentar
anular o processo de impedimento da presidente Dilma Rousseff. Mesmo com
o afastamento rápido do ex-ministro Romero Jucá – depois que veio à
tona um diálogo no qual o senador diz ser preciso mudar o governo para
“estancar essa sangria”, numa referência à Operação Lava Jato -,
senadores do PT farão de tudo para paralisar a comissão do impeachment.
Embora até o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva considere
difícil Dilma retornar ao Palácio do Planalto, após o julgamento final
no Senado – previsto para ocorrer entre agosto e setembro -, os
problemas no início da gestão Temer animaram o PT. Sob comando de Lula,
será reforçada a ofensiva para reverter seis votos de senadores que
votaram pela deposição da presidente. A ideia é bater na tecla de que o
processo foi “contaminado” por desvios de finalidade.
“Se alguém ainda não tinha certeza de que há um golpe em curso,
baseado no desvio de poder e na fraude, as declarações fortemente
incriminatórias de Jucá sobre os reais objetivos do impeachment e sobre
quem está por trás dele eliminam qualquer dúvida”, afirmou Dilma, na
noite de segunda-feira, 23, na abertura de um congresso de trabalhadores
na agricultura familiar.
Aplaudida pela plateia, formada por cerca de 700 pessoas, a
presidente afastada disse que a gravação de um diálogo entre Jucá e o
ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado “escancara” o modus operandi
do que chamou de “consórcio golpista”.
Sob gritos de “Fora Temer” e “Não vai ter golpe”, Dilma declarou que
continuará lutando para defender o seu mandato e criticou o ministério
montado pelo presidente em exercício. “Os brasileiros não elegeram um
governo só de homens, brancos, ricos e velhos.”
Dilma passou o dia em reunião com antigos auxiliares, no Palácio da
Alvorada. Antes do almoço, chamou o ex-ministro da Secretaria de Governo
Ricardo Berzoini e pediu que ele desse o tom da reação petista ao
escândalo envolvendo Jucá. “Exigimos a demissão de Romero Jucá e a
investigação da relação de Temer com esse diálogo”, disse Berzoini. Em
sua conta no Twitter, o presidente do PT, Rui Falcão, escreveu que a
“Operação Lava Jato acabou por se tornar instrumento da escalada
golpista”.
Dirigentes e ex-ministros do PT foram informados de que Machado
fechou delação premiada com o Ministério Público e também teria
denunciado Renan e o ex-presidente José Sarney (PMDB-AP). Renan disse na
segunda que, por causa da antecipação da sessão do Congresso que
analisará a revisão da meta fiscal – marcada para esta terça – a reunião
da comissão do impeachment foi adiada para a quarta-feira, 25. “Não
tomei conhecimento de delação”, desconversou ele.
No diálogo com Jucá, ocorrido semanas antes da votação do impeachment
na Câmara, Machado falou sobre o esquema de corrupção na Petrobras.
“Jucá foi o grande articulador do impeachment no Senado e, agora,
aparece dizendo que a montagem do governo Temer previa um pacto para
encerrar investigações da Lava Jato”, destacou o senador Lindbergh
Farias (PT-RJ). “É claro que o impeachment está contaminado.”
A estratégia de Dilma e do comando petista será bater na tecla de que
Jucá representa, no Senado, o mesmo que Eduardo Cunha (PMDB-RJ) foi na
Câmara. Cunha deu o pontapé inicial para o impeachment e acabou afastado
do comando da Casa por decisão do Supremo Tribunal Federal. Réu na Lava
Jato, ele é acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
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