sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Paraná tem três cidades entre as 100 com mais homicídios por arma de fogo no Brasil


Fernanda Circhia - Redação Bonde 

O Mapa da Violência 2016 divulgado nesta quinta-feira (25), com levantamento dos homicídios por armas de fogo entre 1980 e 2014, mostra que o Paraná caiu quatro colocações no ranking nacional.

Segundo o estudo coordenado pelo professor e sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, diretor de pesquisa do Instituto Sangari e coordenador da Área de Estudos sobre Violência da Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais (FLACSO), em 2000, o estado registrava 13,4 de mortes em decorrência do uso de armas de fogo e ocupava a 14ª colocação; em 2014, o número foi de 19,2 homicídios a cada 100 mil habitantes, colocando o estado na 18ª colocação.

Apesar da queda no ranking geral, o estado registrou aumento no número de homicídios, em relação aos demais estados. O número de mortes em 2014 quase iguala ao número registrado em 2004, que era 19,1 a cada 100 mil habitantes. Após este ano, o número chegou a subir para 25,2, em 2010. E a menor taxa foi em 2013, com 18,5.

Somente no ano de 2014, 2.073 mortes por arma de fogo foram registradas no Paraná. Deste total, 1.933 eram homens e 139 mulheres. E de acordo com o estudo, a maioria das vítimas eram brancas, na faixa etária de 15 a 29 anos.

Embora a maioria de homicídios por arma de fogo tenha vitimado pessoas brancas no Paraná, o número de pessoas negras mortas por armas de fogo no Brasil é 2,6 vezes maior que o de brancos.

Entre 2003 e 2014, houve queda de 27% nas taxas de mortalidade de brancos por esta causa, e aumento de 9,9% nas mortes de negros.

Em 2003, em números absolutos foram 13.224 homicídios por armas de fogo de pessoas brancas, e, em 2014, esse número caiu para 9.766. Já o número de vítimas negras passou de 20.291 para 29.813. Entre os brancos a taxa de mortos a cada 100 mil habitantes caiu de 14,5 para 10,6 e entre os negros saltou de 24,9 para 27,4.

Menores taxas

Ainda de acordo com o documento, apenas três estados - Santa Catarina, São Paulo e Roraima - apresentam taxas abaixo dos dez óbitos por armas de fogo a cada 100 mil habitantes. Em Santa Catarina, em 2014, foram 7,5 mortos para cada grupo de cem mil habitantes. O estado ocupa a última posição (27º) no ranking da violência.

150 cidades brasileiras

O estudo também apresentou um ranking com as 150 cidades brasileiras com maiores taxas médias de mortes por arma de fogo e com mais de 10 mil habitantes, entre 2012 e 2014. Nesta tabela, três municípios paranaenses aparecem entre as 100 primeiras colocações: Guaíra (região Oeste do estado), com taxa média de 59,6, na 52ª posição; Campina Grande do Sul (Região Metropolitana de Curitiba), com taxa média de 59,1, na 54ª posição; e Almirante Tamandaré (Região Metropolitana de Curitiba), com taxa de 50,1, na 96ª posição nacional.

Ranking das capitais

Curitiba aparece com taxa média de número de mortos por arma de fogo de 31,5, em 2004, na 11ª posição, e 34,0 e 15ª posição, em 2014.

A capital paranaense registrou um aumento de 8,6% no número de homicídios por arma de fogo, de 2013 a 2014. No entanto, embora o número tenha aumentado, a capital foi para a 15ª posição.

Já Fortaleza ocupa o primeiro lugar no ranking das capitais, registrando taxa de homicídios por arma de fogo de 81,5 para cada 100 mil habitantes.

O número de homicídios por arma de fogo em Fortaleza foi de 422 em 2004 para 2.026 em 2014, isto é, uma variação de 380%.

Brasil

Entre 2004 e 2014, a taxa de homicídios por arma de fogo caiu 41,4%, na região Sudeste, no entanto, na região Nordeste, a taxa dobrou.

Mas os números são surpreenderam, afinal, de acordo com o estudo, a região Nordeste foi a que apresentou as maiores taxas de homicídio por arma de fogo em quase todos os anos entre 2004 e 2014.

A maior parte dos estados desta região registraram altos índices de crescimento na década analisada, ou seja, em um curto espaço de tempo, a região teve que enfrentar uma pandemia de violência para a qual estava mal preparada.

Já em relação à região Sudeste, é possível notar sinais de regressão. São Paulo e Rio de Janeiro tiveram crescimento negativo de 57,7% e 47,8%, respectivamente.

Segundo o levantamento, de 1980 até 2014, morreram no Brasil 967.851 vítimas de disparo de arma de fogo. Desse total, 830.420 (85,8%) foram homicídios, enquanto as outras mortes foram por suicídio ou acidente.

Os dados mostram que a evolução da letalidade das armas de fogo não foi homogênea ao longo do tempo. Entre 1980 e 2003, o crescimento dos homicídios por armas de fogo foi constante, com um ritmo de 8,1% ao ano.

A partir do pico de 36,1 mil mortes em 2003, os números caíram para aproximadamente 34 mil e, depois de 2008, variaram em torno das 36 mil mortes anuais. Em 2012, aceleraram novamente, subindo para 42,3 mil.

Das 44.861 mortes registradas no Brasil, em 2014, representam 123 vítimas de arma de fogo a cada dia do ano, cinco óbitos por hora.

Ranking internacional

O estudo também lembra de um ponto importante. O Brasil, embora sem conflitos religiosos ou étnicos, de cor ou de raça, sem disputas territoriais ou de fronteiras, sem guerra civil ou enfrentamentos políticos, conseguiu vitimar, por armas de fogo, mais cidadãos do que muitos dos conflitos armados contemporâneos, como a guerra da Chechênia, a do Golfo, as várias intifadas, as guerrilhas colombianas ou a guerra de liberação de Angola e Moçambique.

Ao analisar dados relacionados a 100 países, o Brasil, com uma taxa de 20,7 óbitos por armas de fogo por 100 mil habitantes, ocupa o décimo lugar, atrás de países como Honduras, El Salvador, Venezuela, Guatemala e Colômbia, com grande carga de violência.

No entanto, não se pode negar que essa taxa fica muito distante quando comparadas a países como Polônia (taxa de 0,1), Reino Unido ou Hong Kong (0,0).

Mesmo assim, houve uma melhora, afinal, em 2004, o Brasil estava em segundo lugar no ranking internacional.

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