Agência Brasil
O ciclo recessivo iniciado no segundo trimestre de 2014 caminha para a
estabilização, de acordo com estudo divulgado hoje (23) pelo Instituto
de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). A tendência é que o resultado do
Produto Interno Bruto (PIB), soma dos bens e serviços produzidos no
país, mostre mais uma queda no terceiro trimestre e, no quarto
trimestre, já tenha um resultado, “senão positivo, já estável”, ou seja,
pare de cair. A avaliação é do economista Leonardo Mello de Carvalho,
autor do estudo.
Embora o PIB do segundo trimestre tenha voltado a registrar retração,
a análise do Ipea do ritmo de queda dos componentes do PIB, pelo lado
da demanda e da oferta, e de outros indicadores de atividade, consegue
identificar uma redução “bastante disseminada” desse ritmo de queda. “A
gente consegue identificar uma desaceleração nessas variáveis, inclusive
com alguns setores já apresentando desempenho positivo ao longo de
2016”, disse Carvalho. É o caso, por exemplo, da produção industrial. O
setor industrial teve avanço de 0,3% no segundo trimestre, segundo o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), interrompendo
sequência de cinco quedas consecutivas, o que reflete a melhora no
cenário da indústria ao longo de 2016.
No lado do PIB, Carvalho destacou os resultados dos investimentos,
que voltaram a crescer na comparação com o trimestre anterior, após dez
períodos de queda. “Se ainda não se consegue falar que a recessão
acabou, acho que dá, sim, para dizer que a economia caminha para uma
etapa de estabilidade, que o pior da crise já foi superado, com base
nessa trajetória de queda mais suave da maioria dos indicadores e
crescimento já em alguns”, reiterou. De acordo com o Ipea, embora o PIB
no segundo trimestre tenha mostrado recuo, o ritmo de retração nos dois
primeiros trimestres de 2016, em termos anualizados (-2%), ficou bem
abaixo daquele apresentado ao longo de 2015, quando o PIB caiu a uma
taxa média anual de 5,9%.
Setores
Na indústria, a melhora tem sido disseminada. Com base na pesquisa
mensal do IBGE, Leonardo Carvalho disse que a produção de bens de
capital cresceu durante os seis primeiros meses do ano, mostrando
pequena acomodação em julho em função do segmento de equipamentos de
transportes: “É um setor que apresentou uma recuperação ao longo de
2016, com crescimento durante todo o semestre”.
Também o setor de bens intermediários apresentou incremento. Esse é
um setor importante, porque produz insumos, tem o maior peso dentro da
indústria e acaba puxando todo o resultado industrial. O Ipea notou
também recuperação “surpreendente”, nos últimos três meses, da produção
de bens duráveis, com crescimento sempre na comparação com o mês
anterior:”Por estar muito ligado, ainda, a consumo, a gente vai conviver
por algum tempo com fraca demanda interna, ligada a consumo das
famílias”
Carvalho acredita que pode estar havendo estímulo positivo das
exportações, que têm melhorado o desempenho desses setores, além de um
processo de ajustamento de estoques, que permite responder tanto à
demanda externa, como também a algum tipo de melhora, embora discreta,
da demanda interna.
“Essa melhora da produção industrial começou mais centrada em setores
que têm uma relevância maior em relação à exportação, desde o quarto
trimestre do ano passado. E essa melhora de desempenho tem se
disseminado entre as demais atividades, ao longo deste ano”, segundo a
análise.
Emprego
O economista do Ipea afirmou, entretanto, que para dizer que está
havendo uma melhora efetiva da economia, o emprego tem um peso grande,
porque está ligado ao fraco desempenho do consumo das famílias: “Acho
que um ponto importante para você consolidar essa estabilização e depois
iniciar uma recuperação propriamente dita vai, como sempre, depender da
recuperação da demanda interna”.
O analista lembrou que o investimento é um componente que,
historicamente em períodos de crise, costuma responder mais rápido que a
demanda interna, porque esta depende do consumo das famílias que, por
sua vez, está relacionado ao mercado de trabalho. A desocupação continua
aumentando no país, com queda do rendimento real. A soma desses dois
fatores a uma trajetória de preços ainda elevada restringe o início de
recuperação do consumo, afirma Carvalho.
Ele acredita que haverá uma piora no mercado de trabalho nos próximos
trimestres, “porque ele possui uma dinâmica que responde com defasagem
em relação à atividade econômica. Os empresários esperam para ter
certeza se, realmente, a recessão vai piorar, se será uma coisa mais
intensa, para iniciar as demissões. Então, tanto na entrada como na
saída da crise, a resposta do mercado de trabalho demora um pouco mais
para acontecer”. Isso vai fazer com que o desempenho do mercado de
consumo permaneça deprimido.
Investimentos
Leonardo Mello de Carvalho informou que o crescimento acumulado dos
investimentos nos sete primeiros meses de 2016, sem comparar com igual
período de 2015, alcança 11,6%. Considerou natural que ocorra ainda nos
próximos meses alguma acomodação. O Indicador Ipea de Formação Bruta de
Capital Fixo (FBCF) aponta redução de 10% nos investimentos entre os
meses de junho e julho, na comparação com ajuste sazonal. O economista
avaliou que esse resultado tem a ver com a queda de 2,7% da produção de
bens de capital que ocorreu, impactada pela produção de caminhões e
ônibus.
Excluindo esse componente da produção de bens de capital, julho teria
sido um mês de estabilidade, ressaltou Carvalho. Por isso, ele disse
que, apesar desse resultado, o diagnóstico de estabilização não se
altera em termos tendenciais. Esclareceu que o cálculo de investimentos é
uma conta de oferta total, usada para medir a produção doméstica de
bens de capital e as importações de bens de capital, de cujo resultado
se retira o que foi exportado. Em julho, todos os três componentes
contribuíram para a queda.
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