Por unanimidade, a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) 
abriu ação penal para investigar participação da senadora Gleisi 
Hoffmann (PT-PR), do marido dela, o ex-ministro Paulo Bernardo, e do 
empresário Ernesto Kugler no esquema de desvios de dinheiro da 
Petrobras. Por unanimidade, o colegiado aceitou a 
denúncia apresentada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, 
contra os três – que agora são réus. Eles responderão por corrupção 
passiva e lavagem de dinheiro. A decisão foi unânime, com os votos dos 
ministros Teori Zavascki, relator da Lava-Jato no tribunal, Dias 
Toffoli, Ricardo Lewandowski, Celso de Mello e Gilmar Mendes.
Segundo a denúncia, enviada ao STF em maio, Paulo Bernardo pediu R$ 1
 milhão ao ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa para abastecer a 
campanha de Gleisi ao Senado em 2010. O dinheiro teria sido entregue por
 um intermediário do doleiro Alberto Youssef a um empresário chamado 
Ernesto Kugler, ligado ao casal. A quantia teria sido repassada em 
quatro parcelas de R$ 250 mil.
— Os elementos indiciários convergem no sentido de que, em tese, 
teria ocorrido a solicitação de vantagem indevida pelo denunciado Paulo 
Bernardo Silva a Paulo Roberto Costa, então diretor da Petrobras, no 
montante de R$ 1 milhão, para a campanha eleitoral de sua esposa, a 
denunciada Gleisi Helena Hoffmann, oriundos de desvio da Petrobras — 
afirmou Teori,
O relator explicou que, para aceitar a denúncia, não é necessário 
haver provas cabais no processo, mas apenas indícios de que os crimes 
ocorreram. Depois, ao longo da ação penal, as apurações seriam 
aprofundadas para se verificar se os investigados cometeram os crimes ou
 não.
— A descrição fática explicitada na denúncia, aliada aos indícios já 
descritos, revela, nesta fase, em que não se exige um juízo de certeza, 
material indiciário suficiente ao recebimento da denúncia e afasta as 
teses defensivas de ausência de descrição das condutas e o modo como 
teria ocorrido o delito — declarou o ministro.
Gleisi foi ministra da Casa Civil no governo de Dilma Rousseff entre 
junho de 2011 e fevereiro de 2014. Durante o processo de impeachment, a 
senadora foi uma das vozes mais eloquentes na defesa da petista no 
Congresso Nacional. Paulo Bernardo foi ministro do Planejamento no 
governo Lula, de 2005 a 2011, e das Comunicações já no governo Dilma, de
 2011 a 2015.
A suposta participação do casal na Lava-Jato surgiu nas delações 
premiadas de Youssef e de Paulo Roberto. Em seguida, veio a delação do 
advogado Antônio Carlos Pieruccini, que detalhou como o dinheiro foi 
repassado para a campanha da petista. Em depoimento ao Ministério 
Público Federal, Pieruccini afirmou ter transportado R$ 1 milhão de São 
Paulo para Curitiba, a pedido de Youssef. O doleiro teria dito que a 
destinatária final do dinheiro era a campanha de Gleisi.
Pieruccini disse que as entregas ocorreram em uma sala de propriedade
 de Ernesto Kugler, localizada shopping de Curitiba. Pieruccini teria 
levado uma caixa lacrada com a inscrição “P.B./Gleisi”. Ainda segundo 
Pieruccini, Kugler contou as notas, em um total de R$ 250 mil e disse 
que o valor “não dava nem para o cheiro”. Teriam ocorrido outras três 
entregas no mesmo molde, segundo o delator.
Para aceitar a denúncia, Teori também levou em consideração outros 
elementos de prova além dos depoimentos. Um deles é uma agenda de Paulo 
Roberto apreendida na casa dele. Em uma das páginas, havia as iniciais 
de Paulo Bernardo seguidas do número 1,0. Segundo a denúncia, Paulo 
Bernardo teria oferecido a Paulo Roberto, como agradecimento pela 
propina, a manutenção do diretor da Petrobras no cargo.
Antes da votação, as defesas dos três investigados fizeram 
sustentação oral para defender o arquivamento do caso, por falta de 
indícios suficientes. Os advogados bateram na tecla de que os 
depoimentos de Youssef e de Paulo Roberto foram contraditórios entre si,
 já que nenhum dos dois admitiu ter recebido pedido de propina 
diretamente de Paulo Bernardo. O advogado Rodrigo Mudrovitsch, 
contratado por Gleisi, criticou o mau uso das delações premiadas na 
Lava-Jato.
— Esse caso realmente não possui qualquer amparo probatório mínimo. 
Foi feito uso desmedido, desregrado e pouco cauteloso do instituto da 
delação premiada. Tivesse havido cautela maior nos acordos de delação, 
não teríamos essa acusação — declarou Mudrovitsch.
Veronica Abdalla Sterman, contratada por Paulo Bernardo, alegou que 
seu cliente não tinha influência em nomeações para a Petrobras, porque 
era ministro do Planejamento. Segundo as apurações da Lava-Jato, o PP 
teria influência nas nomeações e, por isso, não faria sentido ao diretor
 da Petrobras tentar comprar o apoio de um petista.
— Não há como se atrelar a solicitação feita a Paulo Roberto ao cargo
 de ministro do Planejamento. Não há ato de ofício no ministério do 
Planejamento que Paulo Bernardo poderia ter feito em troca para 
solicitar a vantagem indevida — argumentou a advogada.
Em nota divulgada a imprensa, Gleisi disse que recebeu a decisão do 
STF “com profunda tristeza”. Ainda segundo a nota, a senadora espera 
“serenidade, imparcialidade e isenção” do tribunal para julgar o 
processo. Ela voltou a afirmar sua inocência. “Não há uma única prova 
concreta que aponte o recebimento de recursos ilícitos para minha 
campanha ao Senado, em 2010”, diz o texto. “Tenho certeza que a verdade 
prevalecerá”, conclui a nota.
 
 
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