Uma cidade sem delegado, com inquéritos parados e uma cadeia
superlotada. A mesma cidade está sem juiz titular e o fórum com
atividades suspensas - há centenas de processos sem previsão de
julgamento. Essa situação é enfrentada pelos moradores de Marilândia do
Sul, a oitenta quilômetros de Londrina, no norte do Paraná. Devido a
tantos problemas, a promotoria está deixando apenas criminosos mais
perigosos na cadeia.
Construída para abrigar oito presos, a cadeia da cidade tem atualmente
52. Mais da metade são condenados e deveriam estar em penitenciárias.
Devido a superlotação, quatro policiais de outras cidades fazem plantão
na cadeia para cuidar e transportar presos. No entanto, a promotora
Viviane Moraes Ribeiro Gerelus vive um dilema, não consegue manter na
cadeia todos os criminosos.
"Ainda que a pessoa seja presa pelo crime de tráfico de drogas, se não
tem nenhum antecedente estamos liberando com monitoramento eletrônico
por falta de local para manter. É um risco à sociedade. A gente sabe que
é um risco desses cidadãos continuarem na vida criminosa", alerta.
"A situação é caótica, a população vive cobrando melhorias de segurança pública, mas temos um total desrespeito. O cidadão está completamente desprotegido", adverte a promotora Viviane Gerelus.
A
promotora já entrou com uma ação cobrando a transferência de detentos,
mais policiais e reforço na estrutura. Conseguiu uma liminar, que depois
foi suspensa pelo Tribunal de Justiça.
A precariedade não está só na cadeia, também há problemas na estrutura
da Polícia Civil. O município não tem delegado titular desde novembro de
2015 e, por isso, o de Apucarana acumula os trabalhos. São mais de 230
inquéritos aguardando conclusão.
"Só há andamento nas investigações com prisão em flagrante. Se não
ocorre prisão em flagrante, dificilmente conseguimos elucidar o crime
porque não tem ninguém que o faça", diz a promotora de Marilândia do
Sul.
Por falta de funcionários a delegacia fica fechada a maior parte do
tempo, e o atendimento é restrito. Marilândia do Sul tem apenas um
investigador e um escrivão, estrutura que não dá conta de todo o
serviço.
A Polícia Civil informou que novos delegados estão finalizando o curso
de formação em Curitiba, e a previsão é que em junho um novo delegado
seja nomeado para Marilândia do Sul. Quanto à superlotação, disse que
aguarda a reforma e construção de outras cadeias para transferir quem
está em delegacias.
Já no Poder Judiciário os processos de divórcio, indenizações e
cobranças, por exemplo, demoram para avançar. Advogados da cidade têm
alertado os clientes sobre essa situação.
"Podemos dar entrada, mas não vamos ter resultados rápidos. Só teremos
resultado após a normalização do andamento processual", diz a advogada
Raffaelly Carla Beligni.
Na porta do fórum um decreto do Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR)
suspende prazos e atendimentos. A medida foi tomada após demissão do
escrivão, que respondeu a um processo disciplinar. O cartório dele, que
atendia o fórum, foi fechado há duas semanas e deve ser assumido por uma
equipe do próprio Tribunal. A previsão é concluir a transição em três
meses.
"Houve determinação da presidência do Tribunal para a vinda de um
servidor experiente para fazer o diagnóstico da situação do cartório.
Mas, esse servidor ainda não veio até e também não começou esse
trabalho", pontua a promotora, Viviane Moraes Ribeiro Gerelus.
No fórum, apenas equipes do Ministério Público estão trabalhando, mas
com limitações. Dependem da vinda de reforços no judiciário e do novo
escrivão.
A cidade também não tem um juiz titular. Desde fevereiro a comarca é
atendida por um juiz substituto de Jandaia do Sul, que fica a 52
quilômetros de Marilândia do Sul. O magistrado só vai na cidade para
atender casos urgentes. Na maior parte do tempo, audiências e processos
ficam totalmente parados. O fórum atende ainda outras três cidades que
juntas tem 30.000 moradores.
O Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR) informou que o processo
disciplinar que suspendeu prazos e afastou o escrivão do fórum de
Marilândia do Sul corre em segredo, e por isto não irá se manifestar. Em
relação à falta de juiz titular, o TJ-PR divulgou apenas que o juiz
substituto José Silva Rodrigues, de Jandaia do Sul, continuará
acumulando os serviços de Marilândia do Sul até que o Tribunal defina um
novo titular.
FONTE - G1 PARANÁ

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