Aos 90 anos, cirurgião plástico mais famoso do mundo deixa um legado para a medicina e para a cultura brasileira
- Por Cristian Toledo / tribuna parana
Antes dele, a cirurgia plástica era um método usado para
poucos e por poucos. Depois dele, virou moda, febre, quase rotina e hoje
é de longe a intervenção clínica mais feita no Brasil. Ivo Pitanguy,
que faleceu na tarde deste sábado (6), aos 90 anos, no Rio de Janeiro,
transformou sua especialidade em integrante da cultura brasileira – e
ele virou um personagem conhecido amplamente, como os artistas de
novela, os cantores e os políticos mais poderosos. Ele deixa o legado de
uma transformação que supera os rostos, seios e abdomes que vemos por
aí.
Ivo Pitanguy começou a trabalhar na década de 1940, quando a cirurgia
plástica sequer era uma especialidade reconhecida pela literatura
médica. Passou por Ohio, Minnesota e Nova York em estudos e ajudou a
implantar o Serviço de Cirurgia de Mão na Santa Casa do Rio de Janeiro.
Era a primeira clínica específica em reconstrução de pele na América do
Sul.
A partir desse começo difícil – e com momentos tristes, como a luta
para recuperar os afetados pelo maior incêndio da história brasileira,
do Gran Circo Norte-Americano, em 1961, em Niterói -, Pitanguy descobriu
um caminho dourado, a luta pela eterna juventude, que todos buscam
desde o início dos tempos. Assim criou, na mesma Santa Casa do Rio, o
primeiro serviço de cirurgia plástica reparadora.
Daí por diante, a história é conhecida por todos. É difícil não
termos em nosso convívio alguma pessoa que não passou por uma plástica
(a “cirurgia” foi retirada na linguagem popular). Mesmo sendo o grande
médico especialista do planeta, procurado por diversas estrelas do
cinema mundial, Pitanguy era um crítico das intervenções exageradas, que
mudavam feições e transfiguravam corpos. “Hoje em dia, entre os
brasileiros, há uma preocupação excessiva com o corpo – e, com isso,
deixa-se de lado o espírito. É saudável que as pessoas se cuidem, mas
passar três horas por dia numa academia é um exagero. É mais importante
desenvolver o intelecto do que os músculos do bumbum”, chegou a dizer.
Autor de mais de 900 livros no Brasil e no exterior, Pitanguy tinha
90 anos e trabalhou até recentemente. Também era um dos imortais da
Academia Brasileira de Letras. Ele estava em casa na tarde deste sábado
quando sofreu uma parada cardíaca. O corpo do médico será velado neste
domingo (7), a partir das 13h, no Memorial do Carmo, no Rio de Janeiro.
Às 18h, será a cerimônia de cremação.
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